segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Dialética aristotélica do uso

O uso desgasta
as pessoas, principalmente,
mas as coisas também.

O uso machuca e
faz buracos, rasga,
desbota, destroça.

O uso cansa e, às vezes,
desanima, ou seja,
cansa a alma.

Mas o uso ensina,
fortalece e reforça
o poder de cada um.

E o uso precisa
ser ressignificado
de tempos em tempos

Porque o mesmo uso
das mesmas coisas
deixa a gente, a vida chata

Mas se, de repente,
o uso muda, se transforma,
ele encanta novamente

E florece, e expande
e ousa ser diferente
ser pungente e crescente
indefinidamente

Ping.. Pong...

Ping... Pong...

....... Ping ....... Pong.....

Vem um sentimento
Surge uma ideia
e vai... ping... pong...

Rebate... e volta...
Ecoa e voa
Ecoa e aterra
Ecoa... e... ping... ping...

Volta e... volta
mas muda, transforma
e volta....
e vai e volta... ping e pong.

Até que vira letra
rabisco
movimento e
vai e volta e...
ping.. pong...

ping.. pong...

A pedra

Um objeto cinza circular (não redondo, e sim parecido com um meteoro) está vindo em direção ao meu rosto... e eu não quero desviar. Eu devo, eu sei, mas não quero!

Aquele momento que passa devagar, em câmera lenta... e você até tem a chance de reagir, se quisesse.. mas não quer.

Penso que levar uma pedrada bem no meio da cara vai me ajudar a melhorar. Vai me levar pro hospital, vai derramar sangue, vai... me dar uma desculpa para me sentir de fato inválida e inútil.
Agora!

Ai, caralho! É de papel essa merda!? É cênica essa maldita pedra?

---

Eu gosto das pedras que têm a superfície lisa e achatada, porque elas podem ser arremessadas na água para flutuar, quicando várias vezes, se você for bom arremessador. Essa é a maior utilidade delas, me fazer feliz enquanto as jogos e as vejo quicar antes de afundarem e nunca mais serem vistas por nós.

Quando as vejo quicar me sinto como Jesus, andando sobre as águas... me sito poderoso. Quando elas chegam ao outro lado, à outra margem, me dão a certeza de que eu sou capaz, eu venci o desafio, eu fiz a mágica! Eu sou um moleque poderoso e empoderado nesse momento... e consigo esquecer que, na realidade, eu sou uma menina que deve se comportar, fechar as pernas, usar rosa, laços e ser gentil.

Vão todos se fuder! Eu posso atravessar até a outra margem do rio!

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Eu gosto daquelas pedras grandes que ficam no fundo do poço. Aquelas que quando você vê de cima, através da água límpida, você sabe que ali não pode pular, caso não queira se machucar, ou morrer... Caso queira, já sabe, pula ali! De cabeça!

Eu descobri que tinha vertigem ao nadar no poço fundo de uma cachoeira, com águas límpidas e pedras grandes ao fundo. É uma fenda da serra, de onde cai a água translúcida e preenche o caminho por entre e sobre as pedras, um cenário lindíssimo! E lá estava eu nadando, olhando para baixo admirando, percebendo o quão límpida estava a água e como o sol podia chegar até lá no fundo, iluminando aquela pedra gigantesca bem lá embaixo... que lindo!... E que tontura, que sensação estranha, ruim... O que está acontecendo comigo?

Será que existe um monstro do lago que vai me puxar lá para baixo, como nos desenhos que eu assistia quando criança??? Sempre tive medo dele, caralho! Preciso sair daqui! Alguém me socorre.. Puta merda, tô sozinha aqui... Preciso nadar, rápido, rápido! rápido!

Ufa! Cheguei à margem, estou a salvo!


domingo, 2 de setembro de 2018

A ira que vive em mim

Tenho raiva de quem é segura e gosta de fazer aniversário. Não é mesmo odioso alguém seguro de si, que ama a própria vida? Parece alguém sem medo, aflições, frustrações. Parece ser alguém que nem caga, ou se caga, caga cheiroso! Que raiva!

Eu tenho raiva também de pessoas inseguras, como eu ou mais. Elas parecem que nunca fizeram nada de bom, nada de útil, que são eternas vítimas e devem ser acolhidas em sua mediocridade. Odeio gente medíocre!

Também odeio os homens, todos eles, em medidas diferentes cada um. Odeio a liberdade que eles têm e me foi negada porque eu não tenho um caralho pra botar na mesa e competir qual o maior e mais grosso. Tenho raiva de como o direito deles de ir e vir e de trepar o quanto têm vontade é infinitamente maior que o meu. Odeio os homens! Odeio!

E odeio as mulheres que ficam tretando infinitamente para provar quem fica melhor na roupa da moda. Tenho raiva da competição que me é imposta e que eu muitas vezes reproduzo, mesmo sem perceber, e violento uma amiga ou uma desconhecida. Odeio fazer isso.

Odeio não conseguir gritar que vocês são ridículos... e que eu também sou. Odeio ser calada, odeio ser castrada, odeio ser punida, odeio ser elogiada, odeio ser assim e odeio não conseguir ser quem eu sou de verdade. Odeio minha raiva, odeio minha prisão, odeio minha mente, e odeio o fato de olhar para a liberdade e não poder alcançá-la.

Não se exponha!

Os livros estavam sempre dispostos lá nos fundos, no quartinho abafado, mofando... o autógrafo de Guimarães Rosa embolorando, escondido... um segredo que não deveria ser exposto às visitas. Melhor expor vasos, ou quadros feios que o tio pintou, mas ninguém tem coragem de dizer pra ele. Não, não exponha nosso pontos fracos! Não se exponha! Feche as pernas, pinte a cara, sorria... e não exponha seus livros, nunca! Sua inteligência, nunca! Pode assustar pretendentes... eles não gostam de meninas teimosas que têm opinião.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Desculpe pelo inconveniente


Me desculpa mas eu tinha que te afastar
Pra eu não me afogar
E você me largar

Desculpe o inconveniente
Mas eu sou uma mulher
E não quero ser qualquer 
coisa 
menos 
que sua!

Nua

Crua

Madura o suficiente
Pra dizer não

Pra terminar sozinha 
no chão
E ainda ter em mente
Que é melhor assim

Talvez não pra min
Não agora
Mas para todos
Enfim

Espero que sim

domingo, 15 de abril de 2018

Primeira publicação

Hoje o conto Sra. Otário-idiota foi publicado no Tertúlia online, com ilustra lindona de Helton Souto. Só alegria! !!
Este conto foi escrito num curso que fiz em 2017 com Lourenço Mutarelli, meu ídolo e agora também um companheiro de botecagem e um grande mestre.
Dia feliz!!!

Disponível aqui: http://www.tertuliaonline.com.br/postagem/ver/521

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Amor incondicional

Hoje decido deixar você partir. Assim, como se isso fosse uma decisão minha, arrogante que sou... Ou teimosa, como você repetiu tantas vezes. Não aceito, repeti como mantra por dias e meses, como se isso fosse fazer você continuar ao meu lado, não ir embora...

Como se ir embora fosse uma coisa que você de fato pudesse fazer, como se não estivesse tão dentro de mim mesma que partir fosse simplesmente impossível. Parte do meu DNA, minha composição, meu "eu" que eu menos posso controlar, digo, nada posso controlar.

Você está em cada vírgula dos meus passos, em casa respiro dos meus atos. Seu olhar contemplador, sua melancolia expressa em um sorriso sincero de amor sofrido, seu humor sutil, quase tímido, mas certeiro.

Não, não desejo estar longe de você, nunca, pois adoro escutar suas histórias, contestar suas crenças, rir de grandes bobagens e brindar uma felicidade ou afogar uma tristeza. Eu não sei lidar com sua ausência, porque ela não existe, porque eu me recuso a negar tudo o que há de você em mim. Porque o nosso amor é aquele incondicional e infinito, que o olhar entrega a cumplicidade entre nós, assim como todas as concessões feitas para que esse amor e essa cumplicidade não se estraguem. E o gesto entrega todo o cuidado para que nada se quebre.

Mas um dia algo se espatifou em um silencioso crack. Algo que sugou as suas energias, os seus sorrisos, os seu humor... e a melancolia ficou apenas triste e dolorida. As palavras ficaram fracas e o sorriso cada vez mais tímido. E os olhos, antes vivos como o céu em um dia de sol, ficaram nublados, opacos e baixos. Sua pele começou a se esfarelar, seu toque ficou fraco... assim como seu coração já havia ficado há alguns anos.

Sua vida havia estagnado, seu corpo se esvaído pela falta de cuidado... e então sua alma voou em busca de um lugar melhor para viver.

Assim, de repente ela se foi. Se foi..... voou.... Acho que talvez esteja cantando e dançando tango e bolero em um lugar lindo... Sem, talvez, ainsa ter certeza que não está mais sofrendo, que está agora livre para ser feliz. Talvez ela esteja vivendo o conto de fadas que sempre sonhou para ela, realizando todos os seus sonhos...

Fico feliz de imaginar que isso acontece agora. Que ela está feliz como eu não a pude fazer enquanto ao meu lado, como se isso fosse minha tarefa. Que ela agora tenha encontrado a alegria e o sorriso que havia perdido há tantos anos... que ela esteja em paz.

Já eu, que não acredito em quase nada disso, que eu consiga achar conforto em sua crença. Mas que ao menos ela te conforte, vó! Que ela te abrace e te faça feliz, porque é tudo o que eu desejo, sua felicidade.

Eu só queria te ver mais uma vez sorrindo aquele sorriso solto, dançando e cantando as suas músicas preferidas que há tantos anos nem sequer podia escutar.

Então, que você viva nas minhas melhores lembranças, entre as mais felizes e as mais tristes que tive. E que eu consiga lidar com o passar do tempo e a inconstância de tudo o que está sobre esse pequeno planeta, parte de um infinito universo que nada significa para tantos seres espalhados pela imensidão.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O que me assombra

O que me assombra tem asas, e voa.
Eu não.

O que me assombra tem antenas,
e percebe o mundo
muito mais sutilmente que eu.

O que me assombra tem seu cérebro espalhado pelo corpo,
e não morre tão fácil quanto eu.
         O que assombra também me apavora,
         me dá nojo,
         ânsia.

E aparece repentinamente,
na calada da noite,
sozinha,
pra provar que tem mais poder que eu
e atrapalhar meu momento mais íntimo.

Ontem ela me tocou,
e o abismo que havia entre nós passou,
em um segundo,
a fazer parte do meu ser.

O pavor do seu toque,
agora concretizado em meu calcanhar,
provou-me que não sou tão limpa quanto imaginava,
mas um bicho arredio, fraco, patético,
e condenado à desgraça,
à imundície.

Ela se limpou após me tocar,
disso nunca me esquecerei.
Ela teve mais nojo de mim, que eu dela.
                      A mim, só me restou chorar.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Sra. Otário-idiota

O cara só pode ser um otário. Ou não teria postado aquela foto idiota dele comendo uma porra de um macarrão gourmet que ele mesmo cozinhou, tomando um vinho com notas de sei lá que merda e que deixou ele com uma cara de idiota! Mais que o usual.

E o pior é que eu tive uma foto deste mesmo otário-idiota na cabeceira da minha cama, durante anos. ANOS! De um lado a foto de nós dois sorrindo e do outro o próprio otário. E eu achava que era feliz. Eu, a senhora otário-idiota. Talvez eu até tenha sido mesmo, eu achei que sim. Até o dia que... Ninguém acreditou na época, mas eu sei a verdade.

A gente jogou coisas pela janela, enquanto mandava o outro tomar no cú, ou ir à merda, coisas assim... Eu joguei copos, ele jogou discos, e por sorte ninguém passava pela rua naquela hora. Eu saí andando... e encontrei aquela mesma moça na praça. Ela estava ao celular, acho que falava com Deus. Ela sempre estava ali, pedindo cigarro pra quem passava, ou falando no celular que deve ter pegado em algum lixo.

O fato é que naquele dia, naquele instante, eu percebi que eu estava apaixonada por ela. Alguma coisa mágica aconteceu naquele dia específico, que eu entendi que ela era quem poderia me tornar um ser humano completo, total. Andaríamos juntas livres pelo mundo, parando quando desse vontade, se desse vontade. Sem rumo. Sem nada.

Principalmente, eu não queria nunca mais ter tapete. Eu sempre olhava pros tapetes da minha casa e pensava como eu tinha chegado ao ponto de ter tapete em casa? Quando eu parei de precisar apenas do essencial? Era irritante olhar pros tapetes, muito irritante. Triste até.

Eu só não queria mais sentar naquele mesmo bar, com aqueles mesmos idiotas, ouvindo aquelas mesmas merdas machistas, aguentando o otário-idiota em questão, ou qualquer outro. Não queria mais ouvir aqueles mesmos discos com aqueles mesmos amigos meus e do otário-idiota. Eu sei que eu queria deixar as coisas saírem de mim, as vontades nascerem de mim... e parar de querer o que eu não quero de fato.

Eu me sentei ao seu lado e disse: é com Deus que você está falando? Ela olhou assustada para mim e respondeu: por que você está falando comigo? Quem é você? Eu sou uma idiota aí... e eu te acho linda. Ela gargalhou de forma que me deu medo. Você é louca, isso sim. Sai fora, vai trabalhar! Não posso. Eu não quero mais fazer nada do que eu fiz até hoje. E você quer fazer o que? Fugir com você. Ser livre.


Livre? Você disse que era idiota e eu vou ter que concordar. Me dá 10 reais pra eu comprar uma pedra!? Anda logo! Mas eu não tenho nada, saí sem nada de casa, depois de brigar com... Cala a boca caralho, eu vou te furar se você não me der dinheiro, sua puta. Mas, a gente deveria fugir juntas, eu te amo. Sua otária. Vai se fuder e me deixa em paz! Ela saiu andando.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

euGuimarãesemeuavô

Meu avô é uma memória que fica ali, naquela caixinha de todas as alegrias da minha infância.
Hoje é aniversário de seu nascimento, e eu só posso ficar feliz por ter tido o melhor avô do mundo, porque era isso que ele era: o avô mais lindo, mais forte, mais amoroso, e que tinha pernas bastante peludas só pra eu poder brincar de puxar os pelinhos enquanto estava sentada em seu colo conversando com ele na cozinha, de tardezinha... até o anoitecer.

Meu avô conheceu o Guimarães Rosa... e um dia eu soube disso ao abrir um livro que o autor tinha autografado para ele, com um recado carinhoso. Era o Terceiras estórias... meu amor aumentou mais, minha admiração aumentou mais, e também meu desejo de que agora eu pudesse, já adulta, sentar com meu avô para dividir uma cerveja e escutar todas as suas estórias com Guimarães.

Esses dois homens que eu amo um dia sentaram e tomaram uma cerveja, talvez outra coisa, conversando sobre a vida, sobre literatura? Ou será sobre o que falaram?... Eu nunca saberei os segredos que compartilharam... e isso não posso mudar. Amargo o sabor da frustração.

Meu avô era quem me incentivava a dançar, uma grande paixão minha. Hoje eu gosto ainda mais é de escrever, aliás, já gostava das duas coisas quando a gente convivia... mas hoje eu queria saber das estórias deles dois... e queria que eles dois soubessem das minhas estórias, e que a gente conversasse sobre a vida e sobre literatura e sobre amores e desamores... e pudéssemos chorar juntos, sorrir juntos e quem sabe até dançar... euGuimarãesemeuavô.

Eu ia me sentir muito importante e quem sabe até acreditasse que eu sei escrever, não como Guimarães, claro que não. Mas como uma admiradora que gostaria de poder me contagiar das palavras daqueles dois homens que eu amo e que um dia estiveram na mesma sala, e ficaram amigos. Amigos será? Amigos, cúmplices!

Eu me lembro de conversar coisas muito importantes com meu avô, sobre o amor por exemplo. E de ler estórias belíssimas de Guimarães... mas os dois juntos?! Só nos meus sonhos posso viver esse encontro. Em meus delírios de escritora e bailarina... Eu dançaria pro meu avô e pra João, seu amigo. Uma música argentina, um tango... e então dançaria com um, e depois com o outro. E depois escreveria a mais bela estória de amor da minha vida.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Porque não sei desenhar

Fecha os olhos! Agora tenta imaginar o que eu estou vendo... Essa moça esta andando na rua, no centro de São Paulo, com um cabelo longo e liso e um vestido azul-claro longo, de tecido bem leve, que se movimenta muito mais do que ela, que nesse momento se arrepiou, mais de medo do que pelo frescor da brisa.

Ela começou a chorar. Ela andava meio sem rumo, sem se lembrar do seu nome... Ela só sentia um desejo por ver um rosto específico, do qual se lembrava muito bem, no meio daquela multidão disforme, difusa e rápida.

Sentia um cheiro de rosas, mas que se misturava ao de mijo que subia das ruas, dos becos por onde agora estava.

Não parecia ter a menor importância o nome de nada, nem mesmo daquela figura que insistia na memória dela. Mas as formas e os cheiros eram a única realidade interessante para ela, que sentia vontade e girava, em êxtase com aquele odor misto, com as emoções que a faziam então chorar e querer virar uma pomba.

Uma pomba? Que desejo absurdo! Devia querer ser uma ave mais nobre. Mas não, ela queria ser uma pomba e ganhar migalhas de pão de todos aqueles passantes... de todos os tipos de homens, mulheres e crianças.

É isso, ela era eclética, era livre, e queria se doar e receber de todos e qualquer um que quisessem usufruir do seu existir. Sentia-se sensual, e girava enquanto grunhia como aquelas pombas ao seu redor. Talvez ela quisesse ser uma pomba branca, pela simbologia da paz.. e acalmar, por isso, os desejos sexuais que a estavam tomando cada vez mais. Ela era toda tesão naquele momento, e queria engolir o ar, o mundo, os cheiros... queria engolir as pessoas, sentir seus gostos de suor, tesão e frustração. Queria engolir tudo. E quando se sentisse satisfeita ela iria implodir, e libertar a eles todos de uma só vez.

Libertá-los de sua estupidez, de sua ignorância, da arrogância que ela própria sente por, apesar de ser uma idiota, ainda se saber tão melhor que a maior parte das pessoas que passam por ela diariamente. Seus malditos! Seus... seus... seres humanos desprezíveis! Que eu quero foder! Todos! E ao menos sentir o gosto da carne, do sangue que derramam cotidianamente.

Se ao menos eu soubesse desenhar, faria lindas ilustrações do mundo que imagino quando tenho esperanças. Mas não sei desenhar... então apenas vomito no papel palavras, e peço a você, leitor medíocre, que visualize meu mundo tão vulgar, e escroto.

Mas queria saber desenhar fadas, nuvens, carros voadores, sei lá... se eu soubesse desenhar eu saberia o que é bonito de se criar. Mas eu não sei. Eu sou só esse bosta, que finge ser uma fada de vestido azul esvoaçante e pede que você, leitor, seja capaz de desenhar mentalmente o que não posso pôr no papel. Obrigada.

Seu bosta! Bosta que deve ser muito mais feliz que eu. Bosta que não deve feder como eu. Bosta que outros querem comer, mas eu quero esfregar na minha cara e me olhar no espelho. Pra ver se me sinto melhor.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Vazão... esvaiu-se
Nada mais pôde
ou quis fazer

Acabou enfim
qualquer ânimo
...

Fresta

SSSSSSSS....
Quieta.
Acorda pro arco-íris
Que acabou
deixando apenas o odor
de chuva
pingando na memória
lenta

Cata... cata...
sssssssss......
catapulta surda
Muda de lado
observando o tempo
de um átomo
amarelo e laranja
molhado e quieto.

Treme um calafrio
fluido e azul
imergindo totalmente
qualquer pensamento
vadio, sadio
Concreto.

O veto direto
Atravessou, estancou
o que anteontem
se esvaía
em chamas!

Vazava então... por cada mínima fresta que restou
bem aos pouquinhos
com medo do que
antes ardia
e agora tem que calar.