segunda-feira, 27 de maio de 2013

Poética momentânea de vida

Fui aquela que acreditou... que eu seria tantas coisas... que conquistaria mundos... que seria querida por tantos... que seria amada loucamente por um...

Que a vida é agora, que a festa é a resposta, que dançar é se elevar, que não poderia me entregar... Que lutar era a condição, que vencer era quase ilusão, que cair e depois se levantar era algo extraordinário demais para mim.

Que a familia era tudo... e depois era nada... e depois era complicada... e então que é a única, como é. Que os amigos vinham e se iam, porque eu fui embora tantas vezes, e aprendi a abandonar e a superar, e vi que amigos mesmo eram poucos. E que eu também não fui bacana muitas vezes.

Porque todos mudamos, porque nos tornamos mais solitários, porque a vida nos marca fundo e porque as certezas ficam cada vez mais escassas. Porque eu já não quero muito mais, porque não acredito em muito mais, porque não amo muitos mais, porque não sou muito mais... Sou uma vida dentre muitas, mas sozinha por condição. Sou mais uma que busca amor, e que deseja paz e crescente superação.

Já desejei uma cama grande de casal, hoje apenas busco o companheiro. Já desejei um ótimo emprego, hoje não quero ninguém me mandando. Já desejei mudar tanta gente, hoje só quero que sejam felizes. Já desejei morrer, hoje temo a morte mais do que viver.

Sinto falta de tanta gente que se foi, ou que ficou pelo caminho... e parece que minha condição é ter saudade. E raramente me reconhecer no espelho.

Tive medo do que pensariam de mim, hoje tenho mais medo do que eu penso sobre eu mesma e o mundo. Tive medo de me interditarem, hoje busco conhecer e aceitar meus limites. Depois de tantas opiniões, hoje convivo com a indecisão. Depois de tantas desilusões, não me movo agora para nenhuma louca paixão.

Estou cansada e com muito sono. Estou exausta de tanto medo... do que eu quero ou do que eu não quero
do que eu faço ou do que eu não faço, do que eu sou ou do que eu não sou... e dessa inconstância que me acompanha há tempos.

Eu só queria me deitar com você. Só queria carinho e paz. Só queria me conhecer um pouco mais. Só queria dormir e não acordar mais dos sonhos tão mais interessantes que a realidade em que me encontro agora. Porque estou cansada e não sei por que te quero tanto.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Minha hipocrisia

Eu sou sua!
Tão sua que nem sei
quando parei de ser minha
e ter o controle do caminho

Abri mão da vontade
de liberdade infinita
pra não sei o que
ou para onde mesmo iria

Pros seus braços
de sincero amor e dor
da ausência minha
minhas fugas, meu pavor

A cegueira tapada e vã
Fingindo não querer ir
E sendo cada vez mais
Sua, só sua, intensamente

Dolorosamente distante
vomitando ainda em sua cara
minha sincera imaturidade
tardiamente sua.

Agora me falta ser minha
Mentira que tanto lhe contei
e acreditei ser dona
da vida, de mim, de você

Hipócrita, sim, por me achar
mais madura ou esperta
tentando nos controlar e cansando
a você e a mim... da vida.

Paulo Britto

Sempre me lembro dessas poesias que li na faculdade e mexeram de verdade comigo.. então hoje, relendo mais uma vez, resolvi compartilhar. Acho que nunca postei-as aqui..

DEZ SONETOS SENTIMENTAIS
VII

A consistência exata dessa insônia,
a forma certa desse medo, o gesto
seco que rejeita essa necessidade
abjeta de se ser quem não se é -
a aceitação completa da vontade
insuportável de querer o que
se quer, a sede obscena de se tragar
o copo junto com a bebida - coisas
tão simples, que só pedem a paciência
sábia dos que aprenderam a se aturar,
a santa complacência de quem lambe
as próprias chagas e aprecia o gosto -
não por requinte de nojo, mas só
por nunca haver provado outro sabor.

DUAS BAGATELAS

I
O que conheço de mim
é quase só o que sei,
e o que sei é quase só
o que não quero saber.
resta saber se isso tudo
é só o começo ou se é o fim
ou - o que é pior que tudo -
se é tudo.

II
Então viver é isso,
é essa obrigação de ser feliz
a todo custo, mesmo que doa,
de amar alguma coisa, qualquer coisa,
uma causa, um corpo, o papel
em que se escreve,
a mão, a caneta até,
amar até a negação de amar,
mesmo que doa,
então viver é só
esse compromisso com a coisa,
esse contrato, esse cálculo
exato e preciso, esse vício,
só isso.