domingo, 28 de novembro de 2010

Domingo


Hoje, depois de ler mais um pouco de A Água e os Sonhos, de Gaston Bachelard, correr até o Barreiro e sentar na beira do lago.. to me sentindo leve.. como me sinto olhando essa foto que tirei no sítio em Rio Preto.

domingo, 21 de novembro de 2010

UMA CORREDORA


Bete corria na praia. Fugia, ferida, com todo seu fôlego e sua força... Diariamente. Tentava afastar-se daquele monstro que a levava para um universo fundo e escuro. Um lugar hostil, de onde ela fantasticamente tirava beleza e fertilidade, além das costumeiras maldade, injustiça, cobrança, incompreensão, redenção... dela. Essa última seria só dela.

Então coisas bonitas começaram a passar na sua mente, mas ela mantinha um silêncio doce, sereno. Teria de cuidar de seu cotidiano com mais atenção, escolhendo melhor as ações que a levariam ao seu objetivo, agora que ele começava a ficar mais claro pra ela própria. Teria de encontrar uma forma de organizar seus desejos e, mais difícil, reorganizar tudo o que vivera até então, dando novos significados para tantos tropeços dela e dos que já estiveram ao seu lado. Porque quando se ama, espelha-se profundo no outro, dando a cada gesto, cada palavra dita um peso às vezes incompreensível até para si mesmo.

Agora era capaz de compreender que a responsabilidade do amor só pode ser bem vivida por quem é livre. E quando lhe fica claro que falhou, a quem culpar? O outro? Isso resolveria suas próprias faltas? Ou alguma outra coisa? Apontar!? Pra onde? Eram muitas as lembranças que lhe passavam na mente enquanto corria... tantas e tão variadas... e elas a definiam e se definiam de tantas formas!

De repente, Bete percebeu como sua desobediência, característica sempre tão recriminada pela família, se transformara numa outra importante, mais tarde: Coragem! Que a tirara do buraco inúmeras vezes. Algumas simplesmente assumindo ter sido derrotada pelo medo ou pela dor, ou mesmo pelo desespero de ser tão parecida com todos aos que sempre criticou. Outras vezes saira vitoriosa, nas quais se desapegou de passados. E contou com importantes apoios. E o principal é que agora ela percebia como amava a vida! E era corajosa suficiente para mudar!

Assim, todos os dias Bete corria, meditava, se organizava, entendia, buscava... planejava sua forma de dominar o mundo! E ainda faltava tanto a percorrer, que às vezes dava vontade de desistir. Mas o ser humano nunca desiste, certo? Ele morre quando perde a força para lutar, mas ele NÃO desiste! Assim ela aprendeu. E fora sempre muito dinâmica!

Durante sua infância brincava na rua, inventava moda, brigava com os meninos, dançava, fazia comidinha, base de guerrinha, andava de carrinho de rolimã, empinava pipa, comia brigadeiro, hum.. e aquela macarronada da avó, quando estava com tanta fome que não agüentava mais brincar. E a avó dizia que ela era moleque, que devia aprender karatê, não balé. Mas sempre a levava às aulas de dança, com direito a uma coxinha de camarão - a melhor do mundo! - na volta pra casa. Duas paixões que se mantiveram no coração de Bete: coxinha e dança! Dentre tantas outras que nem se lembra mais.

Em momentos de grandes epifanias e decisões de vida, nossa, parece que tudo será imediato! Já que podemos ver o que não víamos antes, parece que tudo se transformará como que num passe de mágica... Plim! Mas a realidade é outra. Leva um tempinho, ou um tempão, até que se chega lá. E o mais importante é focar no processo, uma dificuldade para ela, tão múltipla e hiperativa. Mas aos poucos aprendia a planejar o caminho para conseguir ser quem aspira, alguém novo, melhor.. que já estava sendo construído por dias e o processo durará ainda meses, quem sabe anos. E então entendeu que a paciência e a perseverança são a chave para o sucesso de qualquer plano... para se realizar os grandes (às vezes simples) sonhos.

Por isso Bete corria, cada dia mais. Como uma criança que luta contra o sono, ela lutava contra o peso que dantes dera à vida! A cada passo se sentia mais leve, mais vencedora, mais capaz e confiante. Finalmente começava a entender como ela própria funcionava e então ficou mais fácil lidar com tantas coisas do mundo também. E o melhor é que finalmente começara a encontrar ou voltara a olhar para pessoas realmente interessantes e parecidas com ela na força para lidar com os obstáculos. Então entendeu quão poucos eram seus verdadeiros amigos e isso não a entristeceu, mas tornou seus vínculos com aquelas poucas pessoas ainda mais especial e dignos de todo seu esforço e amor! Cada um estivera presente no momento necessário! E como a ensinaram e a ensinarão sempre! Sentiu um amor lhe percorrer todo o coração e agradeceu muito a cada um, ali, correndo, pensando... Refletindo também qual o seu papel na vida dessas pessoas, quais teriam sido suas atuações positivas ou como já falhara com eles, tão autocentrada durante suas crises...

As palavras complexidade e sustentável certo dia lhe vieram à mente de forma inesperada também. Começara a pesquisar sobre a Teoria da Complexidade, o que lhe fez entender quantas formas existem de se interpretar o mundo, a vida. Aquela história de cada um fazer a sua parte começara a fazer mesmo sentido, não era baboseira não! E nem ingenuidade. Está provado que pequenas ações podem e geram grandes conseqüências. Ela começara a fazer a sua parte, primeiro se abrindo, se escutando e observando muito as pessoas e suas formas de agir. Passou um tempo reformulando seus conceitos, buscando o equilíbrio entre ser crítica e generosa consigo e com os outros, se reprogramando e entendendo que essa seria uma ação para o resto de sua vida: renovação. Então começara a passar seus aprendizados a quem se interessasse, a despertar esse interesse em mais pessoas, a realizar formas de cada vez mais influenciar pessoas a serem melhores e isso simplesmente fazia com que um mundo melhor estivesse a cada dia mais próximo, porque a tendência do ser humano, do Universo, é a evolução.. Ela estava no caminho certo então! Finalmente seus esforços não eram em vão! Eles eram sustentáveis, não eram apenas gastos de sua energia! Tinham uma justificativa e geravam resultados!

Uma rápida transformação se deu simplesmente porque o que a movia, primeiramente, não era mais salvar os outros. Ela queria salvar a ela própria de uma vida miserável! E quem percebesse e quisesse acompanhá-la seria muitíssimo bem vindo e a ajudaria muito também! Ela só podia dar o exemplo! Não antes de mudar suas referências, seus espelhamentos. Assim, abandonara aquela falsa idéia de ser algum tipo de heroína, querendo salvar quem não queria ajuda, se esquecendo dela própria, fazendo tudo errado, causando dor e desgaste a si e a quem fosse o alvo! Tentar ter controle sobre o mundo é uma grande ilusão! Este fôra seu grande erro e aprendizado! Sempre quisera mandar, controlar, sendo que nem a si própria conseguia convencer a nada que realmente valesse à pena! Atrapalhada em meio a efêmeras paixões!.. Sentira pesar por tantos erros, normal. Mas é passado! E o mundo segue girando.

Bete corre sempre. E gosta cada vez mais do rumo que sua vida está tomando, que ela está lhe dando! Exercitando diariamente abrir seus ouvidos, pra dentro dela. E então abrir logo cedo a janela do quarto, dar bom dia a si mesma e ao mundo, encarando cada desafio com todo o prazer de quem sabe que irá superá-los da melhor forma, com calma e amor! Depois de uma profunda inspirada e uns segundos de honestidade e bom-humor, cada ansiedade é expirada para longe... Cada arrependimento é atirado fora, mas cada erro é analisado e superado. Cada decisão é fruto de um desejo sincero de gerar o bem-estar ao seu redor e retorna em forma de novas oportunidades que ela agarra feliz.

É o melhor que ela pode fazer. Agora.

Bete corre. Sempre.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ronex!


Luto por um amigo muito querido.. mesmo que distante há um tempinho.
Força à família e a todos os amigos!
Um beijo, Ronaldo CorteReal!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Hippiecie"


Ser único
e nada mais importante
que todo o resto
que forma nosso rico
lindo e único
Universo

Ser mais um que dança
e troca dicas e passos,
que reflete o todo em si
e deixa sua marca
positiva, amorosa
nessa Terra

Ser presente
pra ser eterno

(Imagem tirada da internet)

Reconciliação

Sampa,
cidade de paixões intensas,
fugazes, diárias...

Alimento pra alma,
assim como armadilha pra mente...

E meu verdadeiro amor
é a dança

Aqui, onde tudo é dinâmico,
interessante,
pulsa em diferentes ritmos
que capturam minha atenção e

me emociona profundamente...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Yehuda Amichai

O lugar em que temos razão

Do lugar onde temos razão
jamais crescerão
flores na primavera.
O lugar em que temos razão
está pisoteado e duro
como um pátio.

Mas dúvidas e amores
escavam o mundo
como uma toupeira, como a lavradura.
E um susurro será ouvido no lugar
onde houve uma casa
que foi destruída.

(não resisti a postar esse poema que não é meu..)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Domingo de samba

Vou achar graça pra não chorar
Quantas reviravoltas em meu caminhar
Passarei e negarei a me lembrar
Do caminho certo a tomar?

A memória começa a falhar,
Os olhos sempre querem se fechar
E esquecendo o que contar
Sigo começando histórias sem as terminar.

Essa pressa de chegar lá
Que sempre me atrapalha a parar
E pensar no próximo passo a dar
Mas tropeçando hei de me encontrar.

Liberar o que ainda é preso,
Expressões negadas a qualquer preço
Por aqueles a quem mais tive apresso
E me esqueci de seguir a mim mesmo

Sei que não faço mais chorar
A vida agora é da forma do meu cantar
Dedico horas do dia a me afinar
Com o ritmo de meu coração palpitar

Alegrias conquistadas com suor
Melodias que ainda trazem tanta dor
E agora a questão que já me causou pavor
É apenas mais uma que na vida terei de re-compor.

domingo, 19 de setembro de 2010

Desapêgo?

Ainda a necessidade de apego
de um herói,
salvador,
mártir!?

Alguém para te carregar, te cuidar
que não você mesmo
Fraco, confuso,
em círculos é como consegue caminhar

Deverias aproveitar melhor
cada momento que deixas passar
pensando em como se sentirá
quando perdê-lo

O que você tem hoje
não é seu futuro,
são apenas planos
e esse segundo que já passou

Vai e faz, alguma coisa, já
Acorda, levante-se!
Talvez seja tarde
mas ainda há tempo...
enquanto se vive!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010


Pássaro morto
já voou tão alto
Nosso fim é certo

Suspiros...


Um suspiro
e lembranças...
Tão passados esses
vagos sentimentos

Emoções vastas
de amores gastos
ilusões válidas
finalmente subjugadas

Brotam sonhos
novos, tão antigos
esquecidos, talvez
calados à força

Algo tão meigo
que soou estranho,
mas não mais
pra quem se lembra
Ser feliz é melhor!

Quem vence o medo
de não ser mais um maldito
Se coloca à mostra e aguarda
com calma pelo tapa...
ou por alguma carícia.

sábado, 4 de setembro de 2010

Mentira


Nunca existirão o lugar e a hora certos
a gente é que constrói a realidade
e desconstrói os ideais
realiza sonhos, desiste deles...

Alguns momentos são de troca
outros necessariamente de solidão
o tempo de nossas cognições
de silêncios secretos, de criações

Dizem que você passa pelo que aguenta
eu digo que você aguenta o que quer
que segura apenas o que pode
que ação e consequência não são compatíveis, quase nunca

O caos é a condição,
dele emergem todas as possibilidades
que conseguirmos imaginar.. então
abra sua mente e seus olhos pra aprender
cada vez mais rápido exercitar
o desapego às suas verdades!

(Escrito em 1/4/2010)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Haikais


Velório
preparo para o eterno fim
recomeços necessários


Céu estrelado
beleza diária
e incansável


Pirueta
ciclo fechado
a cada oportunidade

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Filtro dos sonhos


Medos e sonhos
interagem em minha mente
em uma dança nem sempre
enriquecedora ou magnífica

As formas em constante
mutação, constantemente
me confundem, se confundem
Trazem questões profundas
do inconsciente
preenchido por medos e sonhos

Sonhos e medos
de realizá-los e ser
finalmente feliz? Não mais.
Estou de peito aberto
de olhos bem abertos
enfrentando-os, superando-os

A cada dia com mais sonhos
E os medos apenas em sonhos
E os sonhos cada vez mais realizados
E os medos diariamente superados.

domingo, 29 de agosto de 2010

Se esvaiu...


A chuva invadiu nossa casa
há alguns meses
Perdemos tudo de repente
Nem ponte, nem praça...

Pela rua encontro respostas
Cada passo me indica
as pedras entre poças
Tentar manter-se seco é inútil

Mas busco abrigo, ainda
Um afago pra me acalmar
das lágrimas intermitentes
Do cansaço de tanto pensar

Cadê ela? minha sombrinha!
Ao menos um arco-iris...
que faça valer a pena esse meu molhar?!

(escrito em 26/01/2010)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Morte de Chiquinho


Chegamos em casa, minha mãe, minha avó e eu. Era 30 de junho, aniversário da minha bisavó, mãe do meu avô de mãe.. Fomos dar os parabéns, mas estávamos de volta, domingo, em casa. Um tanto de tédio, meu tio estava na casa de um amigo, mas logo chegou também. Não quis brincar, foi dormir no colo da minha avó no sofá da sala de TV. Era quase da minha idade, tipo um irmão, 2 anos e meio mais velho. Ainda é. O canarinho do meu avô, Chiquinho, cantava do lado de fora da porta do quintal. Dia ensolarado. Ele era amarelo.
Na tarde anterior estávamos reunidos em casa com amigas da bisa para comemorar seu aniversário, já que aos domingos todas, muito carolas, rezavam seus terços, iam à missa e ficavam com as respectivas famílias. Todos na mesa, salgadinhos, torta, refrigerante e cerveja. Mencionei um sentimento de tédio? Eram todas velhas e eu tinha 8 anos... mas tudo bem, fui pra rua andar de patins, treinar algumas piruetas e saltos.
Lembro-me de como meu avô gostava de me ver dançar e mostrar para seus amigos e aos parentes como sua neta era linda e dançava tão bem. Ele quem escolhia as músicas, e eu saía girando e requebrando pela sala ao som de ritmos latinos, boleros, secos e molhados... me sentia adulta, sedutora, amada, desejada, livre, tanta coisa que eu nem conseguia entender muito bem ainda a paixão que é para mim dançar!
Às vezes iam amigos pra casa, ficavam até tarde tocando, cantando, bebendo e dando risadas, era uma grande festa sempre. Eu gostava mais de Chicago, Killing me softly.. sabia a letra e as horas em que entrava o batuque.. o que me rendia homenagens em bares e admiração, além de perplexidade por uma criança ser tão noturna. Mas eu gostava mesmo era das noites em que me sentava no colo do meu avô na cozinha, só os dois, e jogávamos um jogo que só butequeiro deve saber, com palitinhos, de adivinhação. Me sentia tão esperta, porque eu às vezes ganhava! Que alegria! Quanta gargalhada...
Aí tinha dia que ele me ajudava a escrever cartas de amor pra um paquerinha, ou me escutava contar como tinha sido meu dia na escola, ou fingia não ligar pro meu esporte predileto que era arrancar cabelo da perna peluda dele! Ai! Ele era tão lindo! Às vezes queria só ficar olhando pra ele, quando ficava com bigode de espuma de cerveja, tão engraçado, eu suspirava de amor. E ele era tão forte! Conseguia amassar tampinha de cerveja só com dois dedos! O polegar e o indicador! Meu herói!!
Gostava muito de vê-lo cuidando com todo o carinho do Chiquinho, quase como ele cuidava de mim, diariamente. Quando chegava do trabalho eu corria para abraçá-lo ainda na esquina, pulava no colo dele, me jogava sem medo. E então íamos trocar a água do passarinho, colocar mais comidinha e guardá-lo dentro do quartinho, pro gato não comê-lo! Credo! De manhã, ele pendurava a gaiola do lado de fora, no quintal, limpava o chão da gaiola, colocava comidinha, trocava a água mais uma vez... como suja rápido! E Chiquinho cantava o dia todo, alto... Que bonito!!!
Aos finais de semana ele fazia compras e vinha sempre com um saco de laranjas, fazia laranjada pra família toda! Ou então suco de abacaxi, e eu adorava tomar um copo grande só de espuma, de colher! Ele deixava bater um tempão no liquidificador, só pra me agradar! Huum, que delíiciiaa!! Mas ele ficava muito bravo quando descobria, todo dia, que eu havia comido os miolos de todos os pães, deixado-os ocos e crocantes, como só eu gostava.. separados, o miolo e a casquinha! Ah, ninguém me entende!
Depois comecei a conhecer meu avô também por fotos, estórias de todos os tipos. Como nunca foi nenhuma “flor que se cheira”, em sua juventude fora expulso de colégios, de rodas sociais e do tiro de guerra! Minha bisavó tinha que implorar a todos que o aceitassem de volta, pra adquirir os títulos necessários pra ser minimamente respeitável, acabar os estudos, casar, ter um futuro. Seria uma vergonha pra uma professora ter seus filhos (que eram terríveis) sem estudo, oras. Por fim, ficou claro que eram inteligentes até de mais e talvez tivessem algum transtorno de atenção, ou era só a vida difícil daqueles tempos, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, excessivamente pacata. Tanta coisa, vai entender!
Durante 19 anos tenho tentado encontrar e juntar peças de um quebracabeça gigante, tentando entender quem sou eu, quem era aquele homem que amei tanto, a vida toda, quem é minha família, qual meu papel dentro e fora dela, como superá-la e ser feliz... Agora que estou mais consciente de certas coisas percebo que poderia ser sem fim essa busca. Mas existem limites, hierarquias, barreiras, escolhas, prioridades, e o mundo continua girando enquanto isso. Então é melhor focar no que já tenho, porque me basta pra seguir em frente e planejar meus próximos anos, com mais serenidade e sabedoria que antes.
Pouco tempo depois fui com minha mãe acordar meu avô pra ver o jogo, ele sempre assistia o que passasse aos domingos, sendo mesmo flamenguista... mas foi então que descobrimos, uma tragédia, um descontrole, um fim de mundo. Vô??? Por que ele não acorda? Mãe??? Ai meu Deus, chama alguém, rápido!!! Socorro!!!

- O Chiquinho morreu! Está esticado na gaiola! Será que a Chaninha ou algum outro gato o matou? Não, a grade está intacta... Acho que esquecemos ele no sol...
Nossa, quanto choro, quanta tristeza.. acabou! Era o que nos restava do meu avô e deixamos morrer! Como pudemos!? E como conseguimos nos apegar tanto àquele frágil animalzinho e adiar tanto um luto tão necessário? Anos... Mas enfim, encaramos o doloroso fim.
Eis que hoje um pássaro preto, igual aos que meu avô criava antes mesmo de eu nascer, chegou voando e pousou em mim, manso como um cachorro pode ser! Acho que ficou meu amigo, dei queijo pra ele, gostou de mim... e eu dele! Um amor incontido, sem explicação me encheu o peito. Tão lindo! A natureza tem sua sabedoria e suas ironias, é verdade. Dizem que esses pássaros escolhem o dono. Talvez só agora eu estivesse preparada para recebê-lo em paz e amá-lo assim, imediatamente.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

E para que?


O cansaço toma conta
da legião que batalha
em busca de novos caminhos
no turbilhão visceral de informações

Os modelos foram ultrapassados?
os parâmetros destroçados?
crises que nem sempre trazem
conclusões fáceis ou geniais

Ser mais maleável,
ou não ser tão medroso e covarde
Verdades não são eternas
permita-se acreditar, absurdo é não tentar

E a vida não deve ser mais
que se deixar errar e levantar
e ao sentir profundamente cada emoção
aprender o que levar consigo e o que deixar pelo caminho

que às vezes é ingrato, ou apenas real demais.
Poesia? Achou que a teria para sempre? não...
Às vezes se tem enterros!
Adubos..
Flores..

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Enfim mudo


Estranho
tudo, eu, isso
Essa calma inquietante
que tomou conta do meu coração

Um medo de insistir
e não aguentar,
de desistir agora
e não mais voltar a andar

Será possível
uma mudança tão radical
Ou seria essa a verdade
minha, íntima, real?

Quem disse que tenho sempre
que ser forte e lutar
brava, cega, loucamente?

Eu tenho sim que me respeitar
e aos poucos planejar
meu próximo para sempre...

Que dure o suficiente
pra me trazer bons momentos e aprendizados
que um dia me levem
onde eu realmente devo chegar
e ficar!

E depois mudar...

terça-feira, 17 de agosto de 2010


Roda...
Gira...
Rodopia...
Tenta...
Tenta...
Tenta!

Na ponta do pé
tenta
De cabeça pra baixo
olha
pro mundo, pra fora
pra história

Pra dentro
corre
assustada
Pra cima, pra baixo
Em que posição
a luz é melhor?

Sabedoria...
ssss... silêncio!
Calada girando!
Serena rodando!
Tentando...
Tentando...

(Imagem: recorte da capa do disco Ride the fader, Chavez)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Insône

No escuro é onde há perigo,
na ausência de limites
ou de parâmetros
tudo é gigante ou minúsculo

Um feixe de luz é tenebroso
penetrando o breu e desvelando monstros
cujas formas flexíveis, fantasmagóricas
vêm do passado, do subconsciente

E nessa vigília alucinante
há alguns momentos de epifania
efêmeros, impalpáveis se vão
deixando apenas uma pista pra trás...

E se morrer?
Qual o problema? Algum?
Se nasce mais um? do meu ventre...
aí eu não vou ter fim?

Acho que sim!
E esse pode ser o problema
se apegar tanto a vida..
e se morrer

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Tantos irmãos


Orvalho
e o frio
começam a se esvair
em sol, calor

Carinho
e conexão
nunca d´antes sentidos
com tanta veemência

Verdades
simples, às vezes duras
Alívios
de entendimentos

Esse lugar me pertence
Aquele seu
estava errado
Voa livre agora

Vive sempre
em meu coração
Sem quase existir
Definitivamente presente

Meu irmão!

(Na foto: eu e Renato, amiguinho das antigas)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Natureza Morta


Ciclos de mudanças
e o calendário começa a fazer algum sentido novo
para meus planos, esperanças
marcos históricos só meus, não,
nossos, meu amor

Primavera às vezes
se transforma em outono
as flores murcham e as folhas caem
mas a gente se mantém de pé,
em nossos caminhos secos

Dantes tão adubados,
padecem de raiva, arrependimento, tristeza,
ervas daninhas mortais
que se arrancadas dão lugar a novas e coloridas pétalas
de flores lindas
que apenas nós podemos plantá-las.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010


O silêncio, a leveza
que existem no espaço
inexistem aqui
onde há a raça humana

Seres que falam
mais do que querem ouvir
ou que precisam expressar
sem ao menos respirar, pensar

E a reflexão tardia
pode não resolver os problemas
que cresceram ainda mais
por desgastes de insistências
repetições burras
de quem só queria paz...

e obteve o silêncio

(Imagem: pintura de Edward Hopper)

Familia


As rugas de minha mãe
marcam fundo meu rosto
As atitudes firmes de minha avó
eu as tomo diariamente

Tanto trabalho sujo
tantos enterros e exumações
qua arranco à força
de cada uma delas

Que dormem quase em paz
enquanto minha insônia
me consome frequentemente
e cria uma quase-arte doída

Mas agora eu quero paz
pra ser feliz, ao menos tentar
ser dona de minhas decisões
dar à luz ao meu melhor

Por que te dão a vida
e cobram tão caro por isso?
Injusto demais esse termo
pesada demais a missão

Desisto de fingir, de buscar
quem eu não serei nunca
Desisto de fugir de mim
de me perder, sem antes me encontrar.

Quem és tu?
Quem sou eu?
Essas pupilas dilatadas
A alma azul, pesada

Não posso terminar nessa estrada
Era pra ser fácil viver aqui?
Tornar leve tanta dor?
De onde tirar o que tanto preciso, amor?

É minha escolha sair desse mundo
da melhor forma
Desbravando curiosa, corajosa
algo novo, tão íntimo.

Tantas possibilidades


Quantas dimensões
tem uma realidade?
Tantas estrelas artificiais
ocultando o brilho verdadeiro

Uma chuva cósmica
de mundos remotos
Gotas no breu
de esperanças e imaginação

Essa estufa tão ampla
onde nos alimentamos
O abraço afetuoso
que gera a obrigação de dar o seu melhor

Amor incondicional
pela vida
E a crença na vitória
de merecidas virtudes

Possibilidades construídas
de abrir a mente e o coração
de superar suas próprias espectativas
de se deixar fluir, livre, longe... sempre!
Já!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Meu amor por Clarice Lispector



"Que assim sejamos. De mãos abanando. Sem assunto."

(Dessa vez só a foto é minha. Quase sem palavras)

sexta-feira, 30 de julho de 2010


Por que essa eternidade
cabe em cada dia
cada hora que passa
na minha mente aflita?

Não há ópio
mas placebos
prazeres fugazes
que me parecem tão verdadeiros

Uma calma inquietante
Os passarinhos de cantos histéricos
Um azul que balança entre branco
e o verde das folhas e galhos

Entre estórias reais e imaginadas
Entre livros e quatro paredes
Na memória dessa cidade
Em cada pedra, cada canto, minha casa

Morada de minhas epifanias
da minha pobreza
das minhas cores e formas
diversas, mutantes, meus ciclos.

Meus ciclos
Meus ciclos...

terça-feira, 27 de julho de 2010

Pequeno Conto


Sentado no banco da praça,
vislumbrando as árvores e prédios
na cidade da oportunidade,
onde tudo acontece...
e não se chega por culpa do trânsito

Aos poucos os sonhos, suas realizações
vão ficando tão caros e distantes
que os olhos começam a perder o foco
e o sono prevalece.. e te ganha
ali mesmo

Melhor abrir o guarda-chuva,
me enrolar no plástico e no papelão...
vai que à noite chova
Já basta meu suor frio e minhas lágrimas,
ou aquele maldito que às vezes vem me mijar

A pulga atrás da orelha
que causa tantos sonhos perturbados
também me acorda, com uma puta coceira
além da dor nas costas que agora está pior.

Onde estou?
Acho que está na hora de ir pra casa...
Chega!

domingo, 25 de julho de 2010



Lunática
de exêntricas ladainhas
Libertina, às vezes leviana
Lapidando memórias
como uma legista
analisa seus mortos

Lembranças latejantes
desejos silenciados, lacrados
lamentos, lacunas
lágrimas, lama, lixo, lar
A lascívia da rua vence

Na liturgia pagã
ritos de passagem, de perdas
lírios, lupas, livros
tentativas de localizar sonhos
liberdade tão ilusória
Lívida me olho no espelho

Lutadora lúgubre
ludibriada por si mesma
pela ausência do lúdico
da inocência perdida tão cedo
Necessidade urgente de luzir longe...

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Um haikai



Às vezes de dentro pra fora,
às vezes o inverso,
deixamos pra trás o infinito...

Redenção


A loucura bate à porta,
espia pelas frestas
velhas e novas
e eu vou cansando de tentar
me convencer
de que é melhor não deixá-la entrar

É inútil tentar controlar
todos os esconderijos que existem
dentro ou fora da casa
que nunca foi nem tão segura,
nem tão livre

Entra, sinta-se à vontade
pra dominar
minhas palavras, ações.. meu coração
que às vezes inverte os papéis com minha mente
e uma morte fica à espreita, no escuro

Quem perturba?
Quem ousa me atrapalhar?
Estou só, me alimentando de alma,
de hipotálamo, de epitáfios.. de concreto

E o desejo abstrato de salvação
parece que o encontrarei
num jardim bonito
de uma clinica
verde, igual ao metrô em São Paulo
vivendo no subsolo
virando adubo

Avante Minas!


A luz amarela
da chama cansada
clamejando, diariamente
por caminhos e perdões

Ora está forte
Ora se apaga
nas próprias lágrimas,
mendigas mortas

E o que age sobre o mundo
é a vontade de deuses
pagãos, da transformação

Aqueles intelectos que entenderam
que a reza é inimiga da ação.
Levanta-te e anda!