quarta-feira, 4 de junho de 2014

A solidão

A solidão foi minha amiga por bastante tempo.
Filha única, deslocada, desterritorializada, aérea,
sonhando com personagens, terras misteriosas, aventuras
num sentimento inominável de desejo de algo distante

Eu escutava com atenção minhas amigas e os adultos
e brincava na rua com os meninos, me divertia,
mas chorava baixinho sozinha, sentindo o mundo grande demais
difícil demais, às vezes confuso demais ou cruel

O fato de estar ali para meus queridos, de me sentir uma boa amiga
de me importar com o mundo, maravilhada pela sua riqueza,
de buscar sempre fazer o meu melhor e ser sempre melhor
me dava uma ilusão de que estava tudo bem, pois eu fazia parte

Mas um dia a solidão me assustou porque de surpresa,
aquela amiga largou da minha mão e se foi...
aquele amigo me pareceu estranho e eu me fui...
um amor acabou e me corroeu a esperança mais ingênua

Enfim realmente só, sem conseguir me abrir,
sem conseguir ler uma boa história, ou ver um bom filme
sem conseguir escutar aquela música sem doer
sem poder abraçar todos aqueles que não estão, nunca mais

A solidão foi o que me restou, vagando, buscando
quem sabe pra sempre algo intangível porque tão simples
desejando apenas o amor e a paz, os discos e os livros
os sorrisos e os silêncios confortáveis dentro do meu próprio lar.

O meu próprio lar.