quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Porque não sei desenhar

Fecha os olhos! Agora tenta imaginar o que eu estou vendo... Essa moça esta andando na rua, no centro de São Paulo, com um cabelo longo e liso e um vestido azul-claro longo, de tecido bem leve, que se movimenta muito mais do que ela, que nesse momento se arrepiou, mais de medo do que pelo frescor da brisa.

Ela começou a chorar. Ela andava meio sem rumo, sem se lembrar do seu nome... Ela só sentia um desejo por ver um rosto específico, do qual se lembrava muito bem, no meio daquela multidão disforme, difusa e rápida.

Sentia um cheiro de rosas, mas que se misturava ao de mijo que subia das ruas, dos becos por onde agora estava.

Não parecia ter a menor importância o nome de nada, nem mesmo daquela figura que insistia na memória dela. Mas as formas e os cheiros eram a única realidade interessante para ela, que sentia vontade e girava, em êxtase com aquele odor misto, com as emoções que a faziam então chorar e querer virar uma pomba.

Uma pomba? Que desejo absurdo! Devia querer ser uma ave mais nobre. Mas não, ela queria ser uma pomba e ganhar migalhas de pão de todos aqueles passantes... de todos os tipos de homens, mulheres e crianças.

É isso, ela era eclética, era livre, e queria se doar e receber de todos e qualquer um que quisessem usufruir do seu existir. Sentia-se sensual, e girava enquanto grunhia como aquelas pombas ao seu redor. Talvez ela quisesse ser uma pomba branca, pela simbologia da paz.. e acalmar, por isso, os desejos sexuais que a estavam tomando cada vez mais. Ela era toda tesão naquele momento, e queria engolir o ar, o mundo, os cheiros... queria engolir as pessoas, sentir seus gostos de suor, tesão e frustração. Queria engolir tudo. E quando se sentisse satisfeita ela iria implodir, e libertar a eles todos de uma só vez.

Libertá-los de sua estupidez, de sua ignorância, da arrogância que ela própria sente por, apesar de ser uma idiota, ainda se saber tão melhor que a maior parte das pessoas que passam por ela diariamente. Seus malditos! Seus... seus... seres humanos desprezíveis! Que eu quero foder! Todos! E ao menos sentir o gosto da carne, do sangue que derramam cotidianamente.

Se ao menos eu soubesse desenhar, faria lindas ilustrações do mundo que imagino quando tenho esperanças. Mas não sei desenhar... então apenas vomito no papel palavras, e peço a você, leitor medíocre, que visualize meu mundo tão vulgar, e escroto.

Mas queria saber desenhar fadas, nuvens, carros voadores, sei lá... se eu soubesse desenhar eu saberia o que é bonito de se criar. Mas eu não sei. Eu sou só esse bosta, que finge ser uma fada de vestido azul esvoaçante e pede que você, leitor, seja capaz de desenhar mentalmente o que não posso pôr no papel. Obrigada.

Seu bosta! Bosta que deve ser muito mais feliz que eu. Bosta que não deve feder como eu. Bosta que outros querem comer, mas eu quero esfregar na minha cara e me olhar no espelho. Pra ver se me sinto melhor.

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