sábado, 19 de junho de 2021

Sonhar

 Tenho sonhado muito

com o que fui, que achei que era, que sou

com pessoas e lugares misturados

com conexões inusitadas

com dores, anseios e conflitos


Não tenho sonhos mágicos

divertidos, animados, fascinantes

não sonho com o dia claro, com música feliz

com bolo, carinho, afago


Sonho com a ausência, com a tristeza

com o descaso, o abandono, a perda

Sonho com o ninho sombrio, confuso,

com o chão, a aresta, o susurro


Sonho com o choro, com o tombo, com a dúvida

com a fuga, a adrenalina, o medo 

Sonho com o resíduo, o resto, o excremento

a voz sedimentada, reservada para os sonhos.


Mas sonho em delirar como os pássaros,

em sorrir, saltar, em cantar, em partir

Devaneio com a euforia e a glória

Fantasio e alucino com a vida dos sonhos.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Raízes e asas, ou seria o inverso?

 Não sei o que veio primeiro, as raízes ou as asas?

Não sei em que ordem elas cresceram em mim...

Será que cresceram? Será que na mesma medida?

Não... não são do mesmo tamanho...

As asas sempre foram maiores ou mais fortes que as raízes.


Os pássaros fazem ninhos, temporários

Os elefantes têm/são casas, itinerantes

E eu, por que não poderia ser "errante"?

E articular os meus caminhos, retificando a rota

De tempos em tempos, de sonho em sonho?


Será que as estrofes de cinco versos me contam algum padrão meu?

Seria de cinco dias, cinco meses, cinco anos,

A duração dos meus ciclos de transmutação?

De passarinho a elefante, de gato preto a carcará

De pedra a fogo, vento e barco a navegar?


Meu território se espalha, expande os horizontes

Minhas formas ganham cores e funções inovadoras

Por vezes assustadoras, outras, acolhedoras 

Articulam tempo e espaço do avesso e remam, voam

Enterram cada versão em chão fértil e se vão