domingo, 29 de agosto de 2010

Se esvaiu...


A chuva invadiu nossa casa
há alguns meses
Perdemos tudo de repente
Nem ponte, nem praça...

Pela rua encontro respostas
Cada passo me indica
as pedras entre poças
Tentar manter-se seco é inútil

Mas busco abrigo, ainda
Um afago pra me acalmar
das lágrimas intermitentes
Do cansaço de tanto pensar

Cadê ela? minha sombrinha!
Ao menos um arco-iris...
que faça valer a pena esse meu molhar?!

(escrito em 26/01/2010)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Morte de Chiquinho


Chegamos em casa, minha mãe, minha avó e eu. Era 30 de junho, aniversário da minha bisavó, mãe do meu avô de mãe.. Fomos dar os parabéns, mas estávamos de volta, domingo, em casa. Um tanto de tédio, meu tio estava na casa de um amigo, mas logo chegou também. Não quis brincar, foi dormir no colo da minha avó no sofá da sala de TV. Era quase da minha idade, tipo um irmão, 2 anos e meio mais velho. Ainda é. O canarinho do meu avô, Chiquinho, cantava do lado de fora da porta do quintal. Dia ensolarado. Ele era amarelo.
Na tarde anterior estávamos reunidos em casa com amigas da bisa para comemorar seu aniversário, já que aos domingos todas, muito carolas, rezavam seus terços, iam à missa e ficavam com as respectivas famílias. Todos na mesa, salgadinhos, torta, refrigerante e cerveja. Mencionei um sentimento de tédio? Eram todas velhas e eu tinha 8 anos... mas tudo bem, fui pra rua andar de patins, treinar algumas piruetas e saltos.
Lembro-me de como meu avô gostava de me ver dançar e mostrar para seus amigos e aos parentes como sua neta era linda e dançava tão bem. Ele quem escolhia as músicas, e eu saía girando e requebrando pela sala ao som de ritmos latinos, boleros, secos e molhados... me sentia adulta, sedutora, amada, desejada, livre, tanta coisa que eu nem conseguia entender muito bem ainda a paixão que é para mim dançar!
Às vezes iam amigos pra casa, ficavam até tarde tocando, cantando, bebendo e dando risadas, era uma grande festa sempre. Eu gostava mais de Chicago, Killing me softly.. sabia a letra e as horas em que entrava o batuque.. o que me rendia homenagens em bares e admiração, além de perplexidade por uma criança ser tão noturna. Mas eu gostava mesmo era das noites em que me sentava no colo do meu avô na cozinha, só os dois, e jogávamos um jogo que só butequeiro deve saber, com palitinhos, de adivinhação. Me sentia tão esperta, porque eu às vezes ganhava! Que alegria! Quanta gargalhada...
Aí tinha dia que ele me ajudava a escrever cartas de amor pra um paquerinha, ou me escutava contar como tinha sido meu dia na escola, ou fingia não ligar pro meu esporte predileto que era arrancar cabelo da perna peluda dele! Ai! Ele era tão lindo! Às vezes queria só ficar olhando pra ele, quando ficava com bigode de espuma de cerveja, tão engraçado, eu suspirava de amor. E ele era tão forte! Conseguia amassar tampinha de cerveja só com dois dedos! O polegar e o indicador! Meu herói!!
Gostava muito de vê-lo cuidando com todo o carinho do Chiquinho, quase como ele cuidava de mim, diariamente. Quando chegava do trabalho eu corria para abraçá-lo ainda na esquina, pulava no colo dele, me jogava sem medo. E então íamos trocar a água do passarinho, colocar mais comidinha e guardá-lo dentro do quartinho, pro gato não comê-lo! Credo! De manhã, ele pendurava a gaiola do lado de fora, no quintal, limpava o chão da gaiola, colocava comidinha, trocava a água mais uma vez... como suja rápido! E Chiquinho cantava o dia todo, alto... Que bonito!!!
Aos finais de semana ele fazia compras e vinha sempre com um saco de laranjas, fazia laranjada pra família toda! Ou então suco de abacaxi, e eu adorava tomar um copo grande só de espuma, de colher! Ele deixava bater um tempão no liquidificador, só pra me agradar! Huum, que delíiciiaa!! Mas ele ficava muito bravo quando descobria, todo dia, que eu havia comido os miolos de todos os pães, deixado-os ocos e crocantes, como só eu gostava.. separados, o miolo e a casquinha! Ah, ninguém me entende!
Depois comecei a conhecer meu avô também por fotos, estórias de todos os tipos. Como nunca foi nenhuma “flor que se cheira”, em sua juventude fora expulso de colégios, de rodas sociais e do tiro de guerra! Minha bisavó tinha que implorar a todos que o aceitassem de volta, pra adquirir os títulos necessários pra ser minimamente respeitável, acabar os estudos, casar, ter um futuro. Seria uma vergonha pra uma professora ter seus filhos (que eram terríveis) sem estudo, oras. Por fim, ficou claro que eram inteligentes até de mais e talvez tivessem algum transtorno de atenção, ou era só a vida difícil daqueles tempos, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, excessivamente pacata. Tanta coisa, vai entender!
Durante 19 anos tenho tentado encontrar e juntar peças de um quebracabeça gigante, tentando entender quem sou eu, quem era aquele homem que amei tanto, a vida toda, quem é minha família, qual meu papel dentro e fora dela, como superá-la e ser feliz... Agora que estou mais consciente de certas coisas percebo que poderia ser sem fim essa busca. Mas existem limites, hierarquias, barreiras, escolhas, prioridades, e o mundo continua girando enquanto isso. Então é melhor focar no que já tenho, porque me basta pra seguir em frente e planejar meus próximos anos, com mais serenidade e sabedoria que antes.
Pouco tempo depois fui com minha mãe acordar meu avô pra ver o jogo, ele sempre assistia o que passasse aos domingos, sendo mesmo flamenguista... mas foi então que descobrimos, uma tragédia, um descontrole, um fim de mundo. Vô??? Por que ele não acorda? Mãe??? Ai meu Deus, chama alguém, rápido!!! Socorro!!!

- O Chiquinho morreu! Está esticado na gaiola! Será que a Chaninha ou algum outro gato o matou? Não, a grade está intacta... Acho que esquecemos ele no sol...
Nossa, quanto choro, quanta tristeza.. acabou! Era o que nos restava do meu avô e deixamos morrer! Como pudemos!? E como conseguimos nos apegar tanto àquele frágil animalzinho e adiar tanto um luto tão necessário? Anos... Mas enfim, encaramos o doloroso fim.
Eis que hoje um pássaro preto, igual aos que meu avô criava antes mesmo de eu nascer, chegou voando e pousou em mim, manso como um cachorro pode ser! Acho que ficou meu amigo, dei queijo pra ele, gostou de mim... e eu dele! Um amor incontido, sem explicação me encheu o peito. Tão lindo! A natureza tem sua sabedoria e suas ironias, é verdade. Dizem que esses pássaros escolhem o dono. Talvez só agora eu estivesse preparada para recebê-lo em paz e amá-lo assim, imediatamente.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

E para que?


O cansaço toma conta
da legião que batalha
em busca de novos caminhos
no turbilhão visceral de informações

Os modelos foram ultrapassados?
os parâmetros destroçados?
crises que nem sempre trazem
conclusões fáceis ou geniais

Ser mais maleável,
ou não ser tão medroso e covarde
Verdades não são eternas
permita-se acreditar, absurdo é não tentar

E a vida não deve ser mais
que se deixar errar e levantar
e ao sentir profundamente cada emoção
aprender o que levar consigo e o que deixar pelo caminho

que às vezes é ingrato, ou apenas real demais.
Poesia? Achou que a teria para sempre? não...
Às vezes se tem enterros!
Adubos..
Flores..

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Enfim mudo


Estranho
tudo, eu, isso
Essa calma inquietante
que tomou conta do meu coração

Um medo de insistir
e não aguentar,
de desistir agora
e não mais voltar a andar

Será possível
uma mudança tão radical
Ou seria essa a verdade
minha, íntima, real?

Quem disse que tenho sempre
que ser forte e lutar
brava, cega, loucamente?

Eu tenho sim que me respeitar
e aos poucos planejar
meu próximo para sempre...

Que dure o suficiente
pra me trazer bons momentos e aprendizados
que um dia me levem
onde eu realmente devo chegar
e ficar!

E depois mudar...

terça-feira, 17 de agosto de 2010


Roda...
Gira...
Rodopia...
Tenta...
Tenta...
Tenta!

Na ponta do pé
tenta
De cabeça pra baixo
olha
pro mundo, pra fora
pra história

Pra dentro
corre
assustada
Pra cima, pra baixo
Em que posição
a luz é melhor?

Sabedoria...
ssss... silêncio!
Calada girando!
Serena rodando!
Tentando...
Tentando...

(Imagem: recorte da capa do disco Ride the fader, Chavez)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Insône

No escuro é onde há perigo,
na ausência de limites
ou de parâmetros
tudo é gigante ou minúsculo

Um feixe de luz é tenebroso
penetrando o breu e desvelando monstros
cujas formas flexíveis, fantasmagóricas
vêm do passado, do subconsciente

E nessa vigília alucinante
há alguns momentos de epifania
efêmeros, impalpáveis se vão
deixando apenas uma pista pra trás...

E se morrer?
Qual o problema? Algum?
Se nasce mais um? do meu ventre...
aí eu não vou ter fim?

Acho que sim!
E esse pode ser o problema
se apegar tanto a vida..
e se morrer

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Tantos irmãos


Orvalho
e o frio
começam a se esvair
em sol, calor

Carinho
e conexão
nunca d´antes sentidos
com tanta veemência

Verdades
simples, às vezes duras
Alívios
de entendimentos

Esse lugar me pertence
Aquele seu
estava errado
Voa livre agora

Vive sempre
em meu coração
Sem quase existir
Definitivamente presente

Meu irmão!

(Na foto: eu e Renato, amiguinho das antigas)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Natureza Morta


Ciclos de mudanças
e o calendário começa a fazer algum sentido novo
para meus planos, esperanças
marcos históricos só meus, não,
nossos, meu amor

Primavera às vezes
se transforma em outono
as flores murcham e as folhas caem
mas a gente se mantém de pé,
em nossos caminhos secos

Dantes tão adubados,
padecem de raiva, arrependimento, tristeza,
ervas daninhas mortais
que se arrancadas dão lugar a novas e coloridas pétalas
de flores lindas
que apenas nós podemos plantá-las.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010


O silêncio, a leveza
que existem no espaço
inexistem aqui
onde há a raça humana

Seres que falam
mais do que querem ouvir
ou que precisam expressar
sem ao menos respirar, pensar

E a reflexão tardia
pode não resolver os problemas
que cresceram ainda mais
por desgastes de insistências
repetições burras
de quem só queria paz...

e obteve o silêncio

(Imagem: pintura de Edward Hopper)

Familia


As rugas de minha mãe
marcam fundo meu rosto
As atitudes firmes de minha avó
eu as tomo diariamente

Tanto trabalho sujo
tantos enterros e exumações
qua arranco à força
de cada uma delas

Que dormem quase em paz
enquanto minha insônia
me consome frequentemente
e cria uma quase-arte doída

Mas agora eu quero paz
pra ser feliz, ao menos tentar
ser dona de minhas decisões
dar à luz ao meu melhor

Por que te dão a vida
e cobram tão caro por isso?
Injusto demais esse termo
pesada demais a missão

Desisto de fingir, de buscar
quem eu não serei nunca
Desisto de fugir de mim
de me perder, sem antes me encontrar.

Quem és tu?
Quem sou eu?
Essas pupilas dilatadas
A alma azul, pesada

Não posso terminar nessa estrada
Era pra ser fácil viver aqui?
Tornar leve tanta dor?
De onde tirar o que tanto preciso, amor?

É minha escolha sair desse mundo
da melhor forma
Desbravando curiosa, corajosa
algo novo, tão íntimo.

Tantas possibilidades


Quantas dimensões
tem uma realidade?
Tantas estrelas artificiais
ocultando o brilho verdadeiro

Uma chuva cósmica
de mundos remotos
Gotas no breu
de esperanças e imaginação

Essa estufa tão ampla
onde nos alimentamos
O abraço afetuoso
que gera a obrigação de dar o seu melhor

Amor incondicional
pela vida
E a crença na vitória
de merecidas virtudes

Possibilidades construídas
de abrir a mente e o coração
de superar suas próprias espectativas
de se deixar fluir, livre, longe... sempre!
Já!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Meu amor por Clarice Lispector



"Que assim sejamos. De mãos abanando. Sem assunto."

(Dessa vez só a foto é minha. Quase sem palavras)