terça-feira, 13 de novembro de 2018

Desorientação

Hoje acordei, estou viva,
porém
atônita

muda de espanto
com a surrealidade
densa do momento

Hoje acordei comigo mesma
que posso estar paralisada
e desmoronar

que posso estar desnorteada
e chorar

que posso estar chocada
e desanimar

Hoje acordei catatônica,
buscando por uma mão
por um afago

precisando de chão
pra me nutrir

de nuvens pra sonhar
de café pra acordar

de amor,
muito amor,
pra conseguir continuar

Hoje acordei querendo gritar
querendo xingar
querendo implorar
pela minha vida!

Hoje acordei tentando acreditar
que todos vão acordar
e ainda poder viver.


terça-feira, 30 de outubro de 2018

Gravidade

a Gravidade anda intensa
e vem dificultando o caminhar
Ela vem forçando a barra
e pesando demais em nossos ombros

a Gravidade não é mais
inversamente proporcional a
nenhuma outra força
Ela só se impõe e quer nossa inércia

a Gravidade é tamanha que gerou
um lapso grave de espaço-tempo
e o novo é apenas a repetição
de atos do nosso pior passado

só que a Gravidade
não mais consegue (sic) conseguirá
manter aquelas mesmas órbitas
tudo entrou em choque e

os pesos ficaram desproporcionais e
a força da atração mútua
está nos fazendo cair
juntos, numa mesma direção

em aceleração contínua, constante
formando como que uma massa que...
para de cair, passa a
crescer gigante, até a Lua

mantendo os pés aterrados
na real gravidade da Terra
que nos lembra, sim, do nosso peso
mas nunca nos impediu de sonhar!








quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Árvore

Rasgou a veia e
Retalhos de retratos
Resistentes ao tempo
Romperam o silêncio

Resilientes, ainda
Rogando por reconhecimento
De sua rara imensidão
Enraizada

Improviso

Sairam da trincheira
Sem nem olhar para os lados
Convictos de que eram invisíveis
Seguros de que havia apenas os dois

Pra sempre naquele universo fabuloso
De discursos e imagens maravilhosas
Parte de uma narrativa bonita
Que ninguém nunca escutou

domingo, 30 de setembro de 2018

Só nego

Nego porque me faz sorrir
Nego porque me dói
Nego porque me complementa
na mesma medida em que me divide

Nego porque quero
Nego porque não vejo
Nego qualquer desejo
porque julgo ser um exagero

Nego porque me devora
Nego porque me apavora
Nego porque me encanta
Nego porque me inflama

Nego porque me encoraja
Nego porque me excita
Nego porque me incita
a ações há tanto contidas

Nego porque quero mais
Nego pra me conter
Nego porque quero revelar
Nego pra me esconder

Nego para tentar vencer
essa maldita luta interna
Nego pra buscar abreviar
o fim do que é eterno

Nego, mesmo sabendo
que não sou mais capaz
Mas pra provar que posso
nego uma vez mais

e finalmente desisto.

Então, exausta, escrevo esses versos toscos
pra dizer que te amo.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Dialética aristotélica do uso

O uso desgasta
as pessoas, principalmente,
mas as coisas também.

O uso machuca e
faz buracos, rasga,
desbota, destroça.

O uso cansa e, às vezes,
desanima, ou seja,
cansa a alma.

Mas o uso ensina,
fortalece e reforça
o poder de cada um.

E o uso precisa
ser ressignificado
de tempos em tempos

Porque o mesmo uso
das mesmas coisas
deixa a gente, a vida chata

Mas se, de repente,
o uso muda, se transforma,
ele encanta novamente

E florece, e expande
e ousa ser diferente
ser pungente e crescente
indefinidamente

Ping.. Pong...

Ping... Pong...

....... Ping ....... Pong.....

Vem um sentimento
Surge uma ideia
e vai... ping... pong...

Rebate... e volta...
Ecoa e voa
Ecoa e aterra
Ecoa... e... ping... ping...

Volta e... volta
mas muda, transforma
e volta....
e vai e volta... ping e pong.

Até que vira letra
rabisco
movimento e
vai e volta e...
ping.. pong...

ping.. pong...

A pedra

Um objeto cinza circular (não redondo, e sim parecido com um meteoro) está vindo em direção ao meu rosto... e eu não quero desviar. Eu devo, eu sei, mas não quero!

Aquele momento que passa devagar, em câmera lenta... e você até tem a chance de reagir, se quisesse.. mas não quer.

Penso que levar uma pedrada bem no meio da cara vai me ajudar a melhorar. Vai me levar pro hospital, vai derramar sangue, vai... me dar uma desculpa para me sentir de fato inválida e inútil.
Agora!

Ai, caralho! É de papel essa merda!? É cênica essa maldita pedra?

---

Eu gosto das pedras que têm a superfície lisa e achatada, porque elas podem ser arremessadas na água para flutuar, quicando várias vezes, se você for bom arremessador. Essa é a maior utilidade delas, me fazer feliz enquanto as jogos e as vejo quicar antes de afundarem e nunca mais serem vistas por nós.

Quando as vejo quicar me sinto como Jesus, andando sobre as águas... me sito poderoso. Quando elas chegam ao outro lado, à outra margem, me dão a certeza de que eu sou capaz, eu venci o desafio, eu fiz a mágica! Eu sou um moleque poderoso e empoderado nesse momento... e consigo esquecer que, na realidade, eu sou uma menina que deve se comportar, fechar as pernas, usar rosa, laços e ser gentil.

Vão todos se fuder! Eu posso atravessar até a outra margem do rio!

----

Eu gosto daquelas pedras grandes que ficam no fundo do poço. Aquelas que quando você vê de cima, através da água límpida, você sabe que ali não pode pular, caso não queira se machucar, ou morrer... Caso queira, já sabe, pula ali! De cabeça!

Eu descobri que tinha vertigem ao nadar no poço fundo de uma cachoeira, com águas límpidas e pedras grandes ao fundo. É uma fenda da serra, de onde cai a água translúcida e preenche o caminho por entre e sobre as pedras, um cenário lindíssimo! E lá estava eu nadando, olhando para baixo admirando, percebendo o quão límpida estava a água e como o sol podia chegar até lá no fundo, iluminando aquela pedra gigantesca bem lá embaixo... que lindo!... E que tontura, que sensação estranha, ruim... O que está acontecendo comigo?

Será que existe um monstro do lago que vai me puxar lá para baixo, como nos desenhos que eu assistia quando criança??? Sempre tive medo dele, caralho! Preciso sair daqui! Alguém me socorre.. Puta merda, tô sozinha aqui... Preciso nadar, rápido, rápido! rápido!

Ufa! Cheguei à margem, estou a salvo!


domingo, 2 de setembro de 2018

A ira que vive em mim

Tenho raiva de quem é segura e gosta de fazer aniversário. Não é mesmo odioso alguém seguro de si, que ama a própria vida? Parece alguém sem medo, aflições, frustrações. Parece ser alguém que nem caga, ou se caga, caga cheiroso! Que raiva!

Eu tenho raiva também de pessoas inseguras, como eu ou mais. Elas parecem que nunca fizeram nada de bom, nada de útil, que são eternas vítimas e devem ser acolhidas em sua mediocridade. Odeio gente medíocre!

Também odeio os homens, todos eles, em medidas diferentes cada um. Odeio a liberdade que eles têm e me foi negada porque eu não tenho um caralho pra botar na mesa e competir qual o maior e mais grosso. Tenho raiva de como o direito deles de ir e vir e de trepar o quanto têm vontade é infinitamente maior que o meu. Odeio os homens! Odeio!

E odeio as mulheres que ficam tretando infinitamente para provar quem fica melhor na roupa da moda. Tenho raiva da competição que me é imposta e que eu muitas vezes reproduzo, mesmo sem perceber, e violento uma amiga ou uma desconhecida. Odeio fazer isso.

Odeio não conseguir gritar que vocês são ridículos... e que eu também sou. Odeio ser calada, odeio ser castrada, odeio ser punida, odeio ser elogiada, odeio ser assim e odeio não conseguir ser quem eu sou de verdade. Odeio minha raiva, odeio minha prisão, odeio minha mente, e odeio o fato de olhar para a liberdade e não poder alcançá-la.

Não se exponha!

Os livros estavam sempre dispostos lá nos fundos, no quartinho abafado, mofando... o autógrafo de Guimarães Rosa embolorando, escondido... um segredo que não deveria ser exposto às visitas. Melhor expor vasos, ou quadros feios que o tio pintou, mas ninguém tem coragem de dizer pra ele. Não, não exponha nosso pontos fracos! Não se exponha! Feche as pernas, pinte a cara, sorria... e não exponha seus livros, nunca! Sua inteligência, nunca! Pode assustar pretendentes... eles não gostam de meninas teimosas que têm opinião.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Desculpe pelo inconveniente


Me desculpa mas eu tinha que te afastar
Pra eu não me afogar
E você me largar

Desculpe o inconveniente
Mas eu sou uma mulher
E não quero ser qualquer 
coisa 
menos 
que sua!

Nua

Crua

Madura o suficiente
Pra dizer não

Pra terminar sozinha 
no chão
E ainda ter em mente
Que é melhor assim

Talvez não pra min
Não agora
Mas para todos
Enfim

Espero que sim

domingo, 15 de abril de 2018

Primeira publicação

Hoje o conto Sra. Otário-idiota foi publicado no Tertúlia online, com ilustra lindona de Helton Souto. Só alegria! !!
Este conto foi escrito num curso que fiz em 2017 com Lourenço Mutarelli, meu ídolo e agora também um companheiro de botecagem e um grande mestre.
Dia feliz!!!

Disponível aqui: http://www.tertuliaonline.com.br/postagem/ver/521

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Amor incondicional

Hoje decido deixar você partir. Assim, como se isso fosse uma decisão minha, arrogante que sou... Ou teimosa, como você repetiu tantas vezes. Não aceito, repeti como mantra por dias e meses, como se isso fosse fazer você continuar ao meu lado, não ir embora...

Como se ir embora fosse uma coisa que você de fato pudesse fazer, como se não estivesse tão dentro de mim mesma que partir fosse simplesmente impossível. Parte do meu DNA, minha composição, meu "eu" que eu menos posso controlar, digo, nada posso controlar.

Você está em cada vírgula dos meus passos, em casa respiro dos meus atos. Seu olhar contemplador, sua melancolia expressa em um sorriso sincero de amor sofrido, seu humor sutil, quase tímido, mas certeiro.

Não, não desejo estar longe de você, nunca, pois adoro escutar suas histórias, contestar suas crenças, rir de grandes bobagens e brindar uma felicidade ou afogar uma tristeza. Eu não sei lidar com sua ausência, porque ela não existe, porque eu me recuso a negar tudo o que há de você em mim. Porque o nosso amor é aquele incondicional e infinito, que o olhar entrega a cumplicidade entre nós, assim como todas as concessões feitas para que esse amor e essa cumplicidade não se estraguem. E o gesto entrega todo o cuidado para que nada se quebre.

Mas um dia algo se espatifou em um silencioso crack. Algo que sugou as suas energias, os seus sorrisos, os seu humor... e a melancolia ficou apenas triste e dolorida. As palavras ficaram fracas e o sorriso cada vez mais tímido. E os olhos, antes vivos como o céu em um dia de sol, ficaram nublados, opacos e baixos. Sua pele começou a se esfarelar, seu toque ficou fraco... assim como seu coração já havia ficado há alguns anos.

Sua vida havia estagnado, seu corpo se esvaído pela falta de cuidado... e então sua alma voou em busca de um lugar melhor para viver.

Assim, de repente ela se foi. Se foi..... voou.... Acho que talvez esteja cantando e dançando tango e bolero em um lugar lindo... Sem, talvez, ainsa ter certeza que não está mais sofrendo, que está agora livre para ser feliz. Talvez ela esteja vivendo o conto de fadas que sempre sonhou para ela, realizando todos os seus sonhos...

Fico feliz de imaginar que isso acontece agora. Que ela está feliz como eu não a pude fazer enquanto ao meu lado, como se isso fosse minha tarefa. Que ela agora tenha encontrado a alegria e o sorriso que havia perdido há tantos anos... que ela esteja em paz.

Já eu, que não acredito em quase nada disso, que eu consiga achar conforto em sua crença. Mas que ao menos ela te conforte, vó! Que ela te abrace e te faça feliz, porque é tudo o que eu desejo, sua felicidade.

Eu só queria te ver mais uma vez sorrindo aquele sorriso solto, dançando e cantando as suas músicas preferidas que há tantos anos nem sequer podia escutar.

Então, que você viva nas minhas melhores lembranças, entre as mais felizes e as mais tristes que tive. E que eu consiga lidar com o passar do tempo e a inconstância de tudo o que está sobre esse pequeno planeta, parte de um infinito universo que nada significa para tantos seres espalhados pela imensidão.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O que me assombra

O que me assombra tem asas, e voa.
Eu não.

O que me assombra tem antenas,
e percebe o mundo
muito mais sutilmente que eu.

O que me assombra tem seu cérebro espalhado pelo corpo,
e não morre tão fácil quanto eu.
         O que assombra também me apavora,
         me dá nojo,
         ânsia.

E aparece repentinamente,
na calada da noite,
sozinha,
pra provar que tem mais poder que eu
e atrapalhar meu momento mais íntimo.

Ontem ela me tocou,
e o abismo que havia entre nós passou,
em um segundo,
a fazer parte do meu ser.

O pavor do seu toque,
agora concretizado em meu calcanhar,
provou-me que não sou tão limpa quanto imaginava,
mas um bicho arredio, fraco, patético,
e condenado à desgraça,
à imundície.

Ela se limpou após me tocar,
disso nunca me esquecerei.
Ela teve mais nojo de mim, que eu dela.
                      A mim, só me restou chorar.