domingo, 28 de novembro de 2010

Domingo


Hoje, depois de ler mais um pouco de A Água e os Sonhos, de Gaston Bachelard, correr até o Barreiro e sentar na beira do lago.. to me sentindo leve.. como me sinto olhando essa foto que tirei no sítio em Rio Preto.

domingo, 21 de novembro de 2010

UMA CORREDORA


Bete corria na praia. Fugia, ferida, com todo seu fôlego e sua força... Diariamente. Tentava afastar-se daquele monstro que a levava para um universo fundo e escuro. Um lugar hostil, de onde ela fantasticamente tirava beleza e fertilidade, além das costumeiras maldade, injustiça, cobrança, incompreensão, redenção... dela. Essa última seria só dela.

Então coisas bonitas começaram a passar na sua mente, mas ela mantinha um silêncio doce, sereno. Teria de cuidar de seu cotidiano com mais atenção, escolhendo melhor as ações que a levariam ao seu objetivo, agora que ele começava a ficar mais claro pra ela própria. Teria de encontrar uma forma de organizar seus desejos e, mais difícil, reorganizar tudo o que vivera até então, dando novos significados para tantos tropeços dela e dos que já estiveram ao seu lado. Porque quando se ama, espelha-se profundo no outro, dando a cada gesto, cada palavra dita um peso às vezes incompreensível até para si mesmo.

Agora era capaz de compreender que a responsabilidade do amor só pode ser bem vivida por quem é livre. E quando lhe fica claro que falhou, a quem culpar? O outro? Isso resolveria suas próprias faltas? Ou alguma outra coisa? Apontar!? Pra onde? Eram muitas as lembranças que lhe passavam na mente enquanto corria... tantas e tão variadas... e elas a definiam e se definiam de tantas formas!

De repente, Bete percebeu como sua desobediência, característica sempre tão recriminada pela família, se transformara numa outra importante, mais tarde: Coragem! Que a tirara do buraco inúmeras vezes. Algumas simplesmente assumindo ter sido derrotada pelo medo ou pela dor, ou mesmo pelo desespero de ser tão parecida com todos aos que sempre criticou. Outras vezes saira vitoriosa, nas quais se desapegou de passados. E contou com importantes apoios. E o principal é que agora ela percebia como amava a vida! E era corajosa suficiente para mudar!

Assim, todos os dias Bete corria, meditava, se organizava, entendia, buscava... planejava sua forma de dominar o mundo! E ainda faltava tanto a percorrer, que às vezes dava vontade de desistir. Mas o ser humano nunca desiste, certo? Ele morre quando perde a força para lutar, mas ele NÃO desiste! Assim ela aprendeu. E fora sempre muito dinâmica!

Durante sua infância brincava na rua, inventava moda, brigava com os meninos, dançava, fazia comidinha, base de guerrinha, andava de carrinho de rolimã, empinava pipa, comia brigadeiro, hum.. e aquela macarronada da avó, quando estava com tanta fome que não agüentava mais brincar. E a avó dizia que ela era moleque, que devia aprender karatê, não balé. Mas sempre a levava às aulas de dança, com direito a uma coxinha de camarão - a melhor do mundo! - na volta pra casa. Duas paixões que se mantiveram no coração de Bete: coxinha e dança! Dentre tantas outras que nem se lembra mais.

Em momentos de grandes epifanias e decisões de vida, nossa, parece que tudo será imediato! Já que podemos ver o que não víamos antes, parece que tudo se transformará como que num passe de mágica... Plim! Mas a realidade é outra. Leva um tempinho, ou um tempão, até que se chega lá. E o mais importante é focar no processo, uma dificuldade para ela, tão múltipla e hiperativa. Mas aos poucos aprendia a planejar o caminho para conseguir ser quem aspira, alguém novo, melhor.. que já estava sendo construído por dias e o processo durará ainda meses, quem sabe anos. E então entendeu que a paciência e a perseverança são a chave para o sucesso de qualquer plano... para se realizar os grandes (às vezes simples) sonhos.

Por isso Bete corria, cada dia mais. Como uma criança que luta contra o sono, ela lutava contra o peso que dantes dera à vida! A cada passo se sentia mais leve, mais vencedora, mais capaz e confiante. Finalmente começava a entender como ela própria funcionava e então ficou mais fácil lidar com tantas coisas do mundo também. E o melhor é que finalmente começara a encontrar ou voltara a olhar para pessoas realmente interessantes e parecidas com ela na força para lidar com os obstáculos. Então entendeu quão poucos eram seus verdadeiros amigos e isso não a entristeceu, mas tornou seus vínculos com aquelas poucas pessoas ainda mais especial e dignos de todo seu esforço e amor! Cada um estivera presente no momento necessário! E como a ensinaram e a ensinarão sempre! Sentiu um amor lhe percorrer todo o coração e agradeceu muito a cada um, ali, correndo, pensando... Refletindo também qual o seu papel na vida dessas pessoas, quais teriam sido suas atuações positivas ou como já falhara com eles, tão autocentrada durante suas crises...

As palavras complexidade e sustentável certo dia lhe vieram à mente de forma inesperada também. Começara a pesquisar sobre a Teoria da Complexidade, o que lhe fez entender quantas formas existem de se interpretar o mundo, a vida. Aquela história de cada um fazer a sua parte começara a fazer mesmo sentido, não era baboseira não! E nem ingenuidade. Está provado que pequenas ações podem e geram grandes conseqüências. Ela começara a fazer a sua parte, primeiro se abrindo, se escutando e observando muito as pessoas e suas formas de agir. Passou um tempo reformulando seus conceitos, buscando o equilíbrio entre ser crítica e generosa consigo e com os outros, se reprogramando e entendendo que essa seria uma ação para o resto de sua vida: renovação. Então começara a passar seus aprendizados a quem se interessasse, a despertar esse interesse em mais pessoas, a realizar formas de cada vez mais influenciar pessoas a serem melhores e isso simplesmente fazia com que um mundo melhor estivesse a cada dia mais próximo, porque a tendência do ser humano, do Universo, é a evolução.. Ela estava no caminho certo então! Finalmente seus esforços não eram em vão! Eles eram sustentáveis, não eram apenas gastos de sua energia! Tinham uma justificativa e geravam resultados!

Uma rápida transformação se deu simplesmente porque o que a movia, primeiramente, não era mais salvar os outros. Ela queria salvar a ela própria de uma vida miserável! E quem percebesse e quisesse acompanhá-la seria muitíssimo bem vindo e a ajudaria muito também! Ela só podia dar o exemplo! Não antes de mudar suas referências, seus espelhamentos. Assim, abandonara aquela falsa idéia de ser algum tipo de heroína, querendo salvar quem não queria ajuda, se esquecendo dela própria, fazendo tudo errado, causando dor e desgaste a si e a quem fosse o alvo! Tentar ter controle sobre o mundo é uma grande ilusão! Este fôra seu grande erro e aprendizado! Sempre quisera mandar, controlar, sendo que nem a si própria conseguia convencer a nada que realmente valesse à pena! Atrapalhada em meio a efêmeras paixões!.. Sentira pesar por tantos erros, normal. Mas é passado! E o mundo segue girando.

Bete corre sempre. E gosta cada vez mais do rumo que sua vida está tomando, que ela está lhe dando! Exercitando diariamente abrir seus ouvidos, pra dentro dela. E então abrir logo cedo a janela do quarto, dar bom dia a si mesma e ao mundo, encarando cada desafio com todo o prazer de quem sabe que irá superá-los da melhor forma, com calma e amor! Depois de uma profunda inspirada e uns segundos de honestidade e bom-humor, cada ansiedade é expirada para longe... Cada arrependimento é atirado fora, mas cada erro é analisado e superado. Cada decisão é fruto de um desejo sincero de gerar o bem-estar ao seu redor e retorna em forma de novas oportunidades que ela agarra feliz.

É o melhor que ela pode fazer. Agora.

Bete corre. Sempre.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ronex!


Luto por um amigo muito querido.. mesmo que distante há um tempinho.
Força à família e a todos os amigos!
Um beijo, Ronaldo CorteReal!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Hippiecie"


Ser único
e nada mais importante
que todo o resto
que forma nosso rico
lindo e único
Universo

Ser mais um que dança
e troca dicas e passos,
que reflete o todo em si
e deixa sua marca
positiva, amorosa
nessa Terra

Ser presente
pra ser eterno

(Imagem tirada da internet)

Reconciliação

Sampa,
cidade de paixões intensas,
fugazes, diárias...

Alimento pra alma,
assim como armadilha pra mente...

E meu verdadeiro amor
é a dança

Aqui, onde tudo é dinâmico,
interessante,
pulsa em diferentes ritmos
que capturam minha atenção e

me emociona profundamente...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Yehuda Amichai

O lugar em que temos razão

Do lugar onde temos razão
jamais crescerão
flores na primavera.
O lugar em que temos razão
está pisoteado e duro
como um pátio.

Mas dúvidas e amores
escavam o mundo
como uma toupeira, como a lavradura.
E um susurro será ouvido no lugar
onde houve uma casa
que foi destruída.

(não resisti a postar esse poema que não é meu..)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Domingo de samba

Vou achar graça pra não chorar
Quantas reviravoltas em meu caminhar
Passarei e negarei a me lembrar
Do caminho certo a tomar?

A memória começa a falhar,
Os olhos sempre querem se fechar
E esquecendo o que contar
Sigo começando histórias sem as terminar.

Essa pressa de chegar lá
Que sempre me atrapalha a parar
E pensar no próximo passo a dar
Mas tropeçando hei de me encontrar.

Liberar o que ainda é preso,
Expressões negadas a qualquer preço
Por aqueles a quem mais tive apresso
E me esqueci de seguir a mim mesmo

Sei que não faço mais chorar
A vida agora é da forma do meu cantar
Dedico horas do dia a me afinar
Com o ritmo de meu coração palpitar

Alegrias conquistadas com suor
Melodias que ainda trazem tanta dor
E agora a questão que já me causou pavor
É apenas mais uma que na vida terei de re-compor.

domingo, 19 de setembro de 2010

Desapêgo?

Ainda a necessidade de apego
de um herói,
salvador,
mártir!?

Alguém para te carregar, te cuidar
que não você mesmo
Fraco, confuso,
em círculos é como consegue caminhar

Deverias aproveitar melhor
cada momento que deixas passar
pensando em como se sentirá
quando perdê-lo

O que você tem hoje
não é seu futuro,
são apenas planos
e esse segundo que já passou

Vai e faz, alguma coisa, já
Acorda, levante-se!
Talvez seja tarde
mas ainda há tempo...
enquanto se vive!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010


Pássaro morto
já voou tão alto
Nosso fim é certo

Suspiros...


Um suspiro
e lembranças...
Tão passados esses
vagos sentimentos

Emoções vastas
de amores gastos
ilusões válidas
finalmente subjugadas

Brotam sonhos
novos, tão antigos
esquecidos, talvez
calados à força

Algo tão meigo
que soou estranho,
mas não mais
pra quem se lembra
Ser feliz é melhor!

Quem vence o medo
de não ser mais um maldito
Se coloca à mostra e aguarda
com calma pelo tapa...
ou por alguma carícia.

sábado, 4 de setembro de 2010

Mentira


Nunca existirão o lugar e a hora certos
a gente é que constrói a realidade
e desconstrói os ideais
realiza sonhos, desiste deles...

Alguns momentos são de troca
outros necessariamente de solidão
o tempo de nossas cognições
de silêncios secretos, de criações

Dizem que você passa pelo que aguenta
eu digo que você aguenta o que quer
que segura apenas o que pode
que ação e consequência não são compatíveis, quase nunca

O caos é a condição,
dele emergem todas as possibilidades
que conseguirmos imaginar.. então
abra sua mente e seus olhos pra aprender
cada vez mais rápido exercitar
o desapego às suas verdades!

(Escrito em 1/4/2010)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Haikais


Velório
preparo para o eterno fim
recomeços necessários


Céu estrelado
beleza diária
e incansável


Pirueta
ciclo fechado
a cada oportunidade

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Filtro dos sonhos


Medos e sonhos
interagem em minha mente
em uma dança nem sempre
enriquecedora ou magnífica

As formas em constante
mutação, constantemente
me confundem, se confundem
Trazem questões profundas
do inconsciente
preenchido por medos e sonhos

Sonhos e medos
de realizá-los e ser
finalmente feliz? Não mais.
Estou de peito aberto
de olhos bem abertos
enfrentando-os, superando-os

A cada dia com mais sonhos
E os medos apenas em sonhos
E os sonhos cada vez mais realizados
E os medos diariamente superados.