terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Hippiecie"


Ser único
e nada mais importante
que todo o resto
que forma nosso rico
lindo e único
Universo

Ser mais um que dança
e troca dicas e passos,
que reflete o todo em si
e deixa sua marca
positiva, amorosa
nessa Terra

Ser presente
pra ser eterno

(Imagem tirada da internet)

Reconciliação

Sampa,
cidade de paixões intensas,
fugazes, diárias...

Alimento pra alma,
assim como armadilha pra mente...

E meu verdadeiro amor
é a dança

Aqui, onde tudo é dinâmico,
interessante,
pulsa em diferentes ritmos
que capturam minha atenção e

me emociona profundamente...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Yehuda Amichai

O lugar em que temos razão

Do lugar onde temos razão
jamais crescerão
flores na primavera.
O lugar em que temos razão
está pisoteado e duro
como um pátio.

Mas dúvidas e amores
escavam o mundo
como uma toupeira, como a lavradura.
E um susurro será ouvido no lugar
onde houve uma casa
que foi destruída.

(não resisti a postar esse poema que não é meu..)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Domingo de samba

Vou achar graça pra não chorar
Quantas reviravoltas em meu caminhar
Passarei e negarei a me lembrar
Do caminho certo a tomar?

A memória começa a falhar,
Os olhos sempre querem se fechar
E esquecendo o que contar
Sigo começando histórias sem as terminar.

Essa pressa de chegar lá
Que sempre me atrapalha a parar
E pensar no próximo passo a dar
Mas tropeçando hei de me encontrar.

Liberar o que ainda é preso,
Expressões negadas a qualquer preço
Por aqueles a quem mais tive apresso
E me esqueci de seguir a mim mesmo

Sei que não faço mais chorar
A vida agora é da forma do meu cantar
Dedico horas do dia a me afinar
Com o ritmo de meu coração palpitar

Alegrias conquistadas com suor
Melodias que ainda trazem tanta dor
E agora a questão que já me causou pavor
É apenas mais uma que na vida terei de re-compor.

domingo, 19 de setembro de 2010

Desapêgo?

Ainda a necessidade de apego
de um herói,
salvador,
mártir!?

Alguém para te carregar, te cuidar
que não você mesmo
Fraco, confuso,
em círculos é como consegue caminhar

Deverias aproveitar melhor
cada momento que deixas passar
pensando em como se sentirá
quando perdê-lo

O que você tem hoje
não é seu futuro,
são apenas planos
e esse segundo que já passou

Vai e faz, alguma coisa, já
Acorda, levante-se!
Talvez seja tarde
mas ainda há tempo...
enquanto se vive!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010


Pássaro morto
já voou tão alto
Nosso fim é certo

Suspiros...


Um suspiro
e lembranças...
Tão passados esses
vagos sentimentos

Emoções vastas
de amores gastos
ilusões válidas
finalmente subjugadas

Brotam sonhos
novos, tão antigos
esquecidos, talvez
calados à força

Algo tão meigo
que soou estranho,
mas não mais
pra quem se lembra
Ser feliz é melhor!

Quem vence o medo
de não ser mais um maldito
Se coloca à mostra e aguarda
com calma pelo tapa...
ou por alguma carícia.

sábado, 4 de setembro de 2010

Mentira


Nunca existirão o lugar e a hora certos
a gente é que constrói a realidade
e desconstrói os ideais
realiza sonhos, desiste deles...

Alguns momentos são de troca
outros necessariamente de solidão
o tempo de nossas cognições
de silêncios secretos, de criações

Dizem que você passa pelo que aguenta
eu digo que você aguenta o que quer
que segura apenas o que pode
que ação e consequência não são compatíveis, quase nunca

O caos é a condição,
dele emergem todas as possibilidades
que conseguirmos imaginar.. então
abra sua mente e seus olhos pra aprender
cada vez mais rápido exercitar
o desapego às suas verdades!

(Escrito em 1/4/2010)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Haikais


Velório
preparo para o eterno fim
recomeços necessários


Céu estrelado
beleza diária
e incansável


Pirueta
ciclo fechado
a cada oportunidade

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Filtro dos sonhos


Medos e sonhos
interagem em minha mente
em uma dança nem sempre
enriquecedora ou magnífica

As formas em constante
mutação, constantemente
me confundem, se confundem
Trazem questões profundas
do inconsciente
preenchido por medos e sonhos

Sonhos e medos
de realizá-los e ser
finalmente feliz? Não mais.
Estou de peito aberto
de olhos bem abertos
enfrentando-os, superando-os

A cada dia com mais sonhos
E os medos apenas em sonhos
E os sonhos cada vez mais realizados
E os medos diariamente superados.

domingo, 29 de agosto de 2010

Se esvaiu...


A chuva invadiu nossa casa
há alguns meses
Perdemos tudo de repente
Nem ponte, nem praça...

Pela rua encontro respostas
Cada passo me indica
as pedras entre poças
Tentar manter-se seco é inútil

Mas busco abrigo, ainda
Um afago pra me acalmar
das lágrimas intermitentes
Do cansaço de tanto pensar

Cadê ela? minha sombrinha!
Ao menos um arco-iris...
que faça valer a pena esse meu molhar?!

(escrito em 26/01/2010)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Morte de Chiquinho


Chegamos em casa, minha mãe, minha avó e eu. Era 30 de junho, aniversário da minha bisavó, mãe do meu avô de mãe.. Fomos dar os parabéns, mas estávamos de volta, domingo, em casa. Um tanto de tédio, meu tio estava na casa de um amigo, mas logo chegou também. Não quis brincar, foi dormir no colo da minha avó no sofá da sala de TV. Era quase da minha idade, tipo um irmão, 2 anos e meio mais velho. Ainda é. O canarinho do meu avô, Chiquinho, cantava do lado de fora da porta do quintal. Dia ensolarado. Ele era amarelo.
Na tarde anterior estávamos reunidos em casa com amigas da bisa para comemorar seu aniversário, já que aos domingos todas, muito carolas, rezavam seus terços, iam à missa e ficavam com as respectivas famílias. Todos na mesa, salgadinhos, torta, refrigerante e cerveja. Mencionei um sentimento de tédio? Eram todas velhas e eu tinha 8 anos... mas tudo bem, fui pra rua andar de patins, treinar algumas piruetas e saltos.
Lembro-me de como meu avô gostava de me ver dançar e mostrar para seus amigos e aos parentes como sua neta era linda e dançava tão bem. Ele quem escolhia as músicas, e eu saía girando e requebrando pela sala ao som de ritmos latinos, boleros, secos e molhados... me sentia adulta, sedutora, amada, desejada, livre, tanta coisa que eu nem conseguia entender muito bem ainda a paixão que é para mim dançar!
Às vezes iam amigos pra casa, ficavam até tarde tocando, cantando, bebendo e dando risadas, era uma grande festa sempre. Eu gostava mais de Chicago, Killing me softly.. sabia a letra e as horas em que entrava o batuque.. o que me rendia homenagens em bares e admiração, além de perplexidade por uma criança ser tão noturna. Mas eu gostava mesmo era das noites em que me sentava no colo do meu avô na cozinha, só os dois, e jogávamos um jogo que só butequeiro deve saber, com palitinhos, de adivinhação. Me sentia tão esperta, porque eu às vezes ganhava! Que alegria! Quanta gargalhada...
Aí tinha dia que ele me ajudava a escrever cartas de amor pra um paquerinha, ou me escutava contar como tinha sido meu dia na escola, ou fingia não ligar pro meu esporte predileto que era arrancar cabelo da perna peluda dele! Ai! Ele era tão lindo! Às vezes queria só ficar olhando pra ele, quando ficava com bigode de espuma de cerveja, tão engraçado, eu suspirava de amor. E ele era tão forte! Conseguia amassar tampinha de cerveja só com dois dedos! O polegar e o indicador! Meu herói!!
Gostava muito de vê-lo cuidando com todo o carinho do Chiquinho, quase como ele cuidava de mim, diariamente. Quando chegava do trabalho eu corria para abraçá-lo ainda na esquina, pulava no colo dele, me jogava sem medo. E então íamos trocar a água do passarinho, colocar mais comidinha e guardá-lo dentro do quartinho, pro gato não comê-lo! Credo! De manhã, ele pendurava a gaiola do lado de fora, no quintal, limpava o chão da gaiola, colocava comidinha, trocava a água mais uma vez... como suja rápido! E Chiquinho cantava o dia todo, alto... Que bonito!!!
Aos finais de semana ele fazia compras e vinha sempre com um saco de laranjas, fazia laranjada pra família toda! Ou então suco de abacaxi, e eu adorava tomar um copo grande só de espuma, de colher! Ele deixava bater um tempão no liquidificador, só pra me agradar! Huum, que delíiciiaa!! Mas ele ficava muito bravo quando descobria, todo dia, que eu havia comido os miolos de todos os pães, deixado-os ocos e crocantes, como só eu gostava.. separados, o miolo e a casquinha! Ah, ninguém me entende!
Depois comecei a conhecer meu avô também por fotos, estórias de todos os tipos. Como nunca foi nenhuma “flor que se cheira”, em sua juventude fora expulso de colégios, de rodas sociais e do tiro de guerra! Minha bisavó tinha que implorar a todos que o aceitassem de volta, pra adquirir os títulos necessários pra ser minimamente respeitável, acabar os estudos, casar, ter um futuro. Seria uma vergonha pra uma professora ter seus filhos (que eram terríveis) sem estudo, oras. Por fim, ficou claro que eram inteligentes até de mais e talvez tivessem algum transtorno de atenção, ou era só a vida difícil daqueles tempos, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, excessivamente pacata. Tanta coisa, vai entender!
Durante 19 anos tenho tentado encontrar e juntar peças de um quebracabeça gigante, tentando entender quem sou eu, quem era aquele homem que amei tanto, a vida toda, quem é minha família, qual meu papel dentro e fora dela, como superá-la e ser feliz... Agora que estou mais consciente de certas coisas percebo que poderia ser sem fim essa busca. Mas existem limites, hierarquias, barreiras, escolhas, prioridades, e o mundo continua girando enquanto isso. Então é melhor focar no que já tenho, porque me basta pra seguir em frente e planejar meus próximos anos, com mais serenidade e sabedoria que antes.
Pouco tempo depois fui com minha mãe acordar meu avô pra ver o jogo, ele sempre assistia o que passasse aos domingos, sendo mesmo flamenguista... mas foi então que descobrimos, uma tragédia, um descontrole, um fim de mundo. Vô??? Por que ele não acorda? Mãe??? Ai meu Deus, chama alguém, rápido!!! Socorro!!!

- O Chiquinho morreu! Está esticado na gaiola! Será que a Chaninha ou algum outro gato o matou? Não, a grade está intacta... Acho que esquecemos ele no sol...
Nossa, quanto choro, quanta tristeza.. acabou! Era o que nos restava do meu avô e deixamos morrer! Como pudemos!? E como conseguimos nos apegar tanto àquele frágil animalzinho e adiar tanto um luto tão necessário? Anos... Mas enfim, encaramos o doloroso fim.
Eis que hoje um pássaro preto, igual aos que meu avô criava antes mesmo de eu nascer, chegou voando e pousou em mim, manso como um cachorro pode ser! Acho que ficou meu amigo, dei queijo pra ele, gostou de mim... e eu dele! Um amor incontido, sem explicação me encheu o peito. Tão lindo! A natureza tem sua sabedoria e suas ironias, é verdade. Dizem que esses pássaros escolhem o dono. Talvez só agora eu estivesse preparada para recebê-lo em paz e amá-lo assim, imediatamente.