sábado, 2 de janeiro de 2016
Ébria de oposição
Devir
vir a ser
romper
transparecer.
Acelero
depressa demais
contra a imagem,
espelho côncavo,
que retém meus desejos.
Agressiva,
hostil
exigindo o novo
Amoleço a matéria
que desperta
dura demais.
Na solidão vadia
Ativo quereres
e testo a força
ociosa de deveres.
Penetro porões
desconhecidos
e ricos de perspectivas...
Entre introversão
e sólida extração
sanguínea de impulsos
em dinâmica oposição.
domingo, 20 de dezembro de 2015
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
Quimera
Finjo tanto que chego quase a acreditar que sou alguém
que de fato sente
que de fato sofre
que, de fato, positivamente
encara que a vida é uma farsa
é um talvez
é um pudera
é um quem dera
Que o mundo fosse diferente
na mente que se sente
sempre tão divergente
mas mente que de fato sente
Porque de fato ela ressente
por ser tão indiferente
por não sentir mais nada
por não saber absolutamente
quem é, ou quem de fato
sempre quis ser, sem saber
nem entender
o que significa viver?
Nunca soube nem acho mais
que um dia chegarei a crer
que existe um por quê
que existe um querer
mas apenas o eterno des_faz_er
que nem fim deve ser
mas um se reverter em absolutamente tudo
e nada... e em paz, com sabor
de terra molhada e de bolor,
na beleza do se decompor
e finalmente ser tudo porque absolutamente nada mais.
que de fato sente
que de fato sofre
que, de fato, positivamente
encara que a vida é uma farsa
é um talvez
é um pudera
é um quem dera
Que o mundo fosse diferente
na mente que se sente
sempre tão divergente
mas mente que de fato sente
Porque de fato ela ressente
por ser tão indiferente
por não sentir mais nada
por não saber absolutamente
quem é, ou quem de fato
sempre quis ser, sem saber
nem entender
o que significa viver?
Nunca soube nem acho mais
que um dia chegarei a crer
que existe um por quê
que existe um querer
mas apenas o eterno des_faz_er
que nem fim deve ser
mas um se reverter em absolutamente tudo
e nada... e em paz, com sabor
de terra molhada e de bolor,
na beleza do se decompor
e finalmente ser tudo porque absolutamente nada mais.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
De mãos dadas com meu herói
Aquele cheiro de tangerina saiu da minha caneca diretamente em direção às minhas memórias...
Eu descia a rua de casa, vindo do mercadinho onde minha família tinha conta na caderneta. Tínhamos ido, meu avô e eu, comprar qualquer coisa que precisavam para o almoço daquele dia de fim de semana. Ou talvez fosse só a cerveja para molhar os papos.
Lembro-me que o dia estava bonito e a rua era de paralelepípedo e bastante ingrime. A sacola que meu avô carregava era de lona verde e muito batida. Era sua predileta. Descíamos a rua sorrindo e conversando. Com uma mão eu segurava o dedão da mão grande de meu avô. Com a outra mão eu segurava um picolé de tangerina e não sabia o que me dava mais prazer, o gosto do picolé ou o simples fato de estar passeando de mãos dadas com meu avô.
Um amor profundo percorreu meu coração naquele dia e hoje eu o senti completa e novamente. Eu voltei àquele momento por um instante, de olhos fechados, enquanto tomava meu chá. E sorri de novo, apesar da dor da saudade, mas com a certeza de que amei e fui amada por meu maior herói.
Eu descia a rua de casa, vindo do mercadinho onde minha família tinha conta na caderneta. Tínhamos ido, meu avô e eu, comprar qualquer coisa que precisavam para o almoço daquele dia de fim de semana. Ou talvez fosse só a cerveja para molhar os papos.
Lembro-me que o dia estava bonito e a rua era de paralelepípedo e bastante ingrime. A sacola que meu avô carregava era de lona verde e muito batida. Era sua predileta. Descíamos a rua sorrindo e conversando. Com uma mão eu segurava o dedão da mão grande de meu avô. Com a outra mão eu segurava um picolé de tangerina e não sabia o que me dava mais prazer, o gosto do picolé ou o simples fato de estar passeando de mãos dadas com meu avô.
Um amor profundo percorreu meu coração naquele dia e hoje eu o senti completa e novamente. Eu voltei àquele momento por um instante, de olhos fechados, enquanto tomava meu chá. E sorri de novo, apesar da dor da saudade, mas com a certeza de que amei e fui amada por meu maior herói.
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
Poema de mim
Quando corro
sem querer me
perder
pra saber do pouco
que ainda há de querer
Com medo
de nunca encontrar
aquilo que me tenha
sentido
e me faça voltar
Chego n'algum lugar
ermo, vazio e
Não acho...
apenas me percebo
com medo
sem desejo de nada
sem vontade de vida
sem espaço pra nada
sem perspectiva
Cansada de dispersar
tanta energia no ar
sem foco, sem fio, sem par
sem ninguém no meu lugar
Onde eu mesma
nunca quis estar
de onde corri sem parar...
de onde não posso me destacar
Eu não quero,
não quero!
Eu quero sair
quero fugir
sumir
Me deixe ir
Deixe-me fingir
que partir é o caminho
pois dentro do ninho
não há espelhos pra mim
Me deixe respirar...
meu desejo é voar
me desapegar
deste corpo, transmutar.
minha vontade é escapar
não estar num lugar
mas ser todo o mundo
em deleite eterno e profundo.
quinta-feira, 28 de maio de 2015
O Cume
Cumieira...
Cume? ladeira?
Parece chuva
longe
Parece tempestade
bem aqui.
No alto da nuvem
de onde o vento sai
com pressa e
me leva
me eleva
me espera
cair
Tem sonhos
que morrem sonhos
pois não querem
se desgastar
ou desistir
de sonhar
e chorar
Então vivo um zumbi
escravo de mim
de ralidades
e insanidades
Vivo o hoje
querendo que acabe
que um dia
essa casa que se abre
cesse de ceder
de fingir ser
o alvorecer e não
o lindo entardecer
Em laranja e rosa
em bolo, café e prosa
em colo e cafuné
em reza com fé
Em montanha e terra
Em águas e muito ar
Em simples ser
Em profundo amar.
Meu deus,
por todos os deuses,
me diz
foi mesmo você
quem me deu esta vida
sofrida?
Um chegar
já com com sabor salgado
de despedidas
constatntes, doídas...
e a sequência de novo
do novo, da vida?
Que insiste em vencer
em lutar querendo
ser feliz!
Desejando desvelar
o sentido do caminho
o fundo do poço
e o brilho do luar
Cheia de canto,
de alegrias medrosas
do gostar demais
do se entregar à dança
e se perder sem fim
do azul e do negro
do misterioso universo (
)
Medo de consumir todo o oxigênio
e quando chegar beeeem alto
não conseguir respirar
E sufocar o grito
que por toda a vida
esperou o cume
pra se revelar.
Cume? ladeira?
Parece chuva
longe
Parece tempestade
bem aqui.
No alto da nuvem
de onde o vento sai
com pressa e
me leva
me eleva
me espera
cair
Tem sonhos
que morrem sonhos
pois não querem
se desgastar
ou desistir
de sonhar
e chorar
Então vivo um zumbi
escravo de mim
de ralidades
e insanidades
Vivo o hoje
querendo que acabe
que um dia
essa casa que se abre
cesse de ceder
de fingir ser
o alvorecer e não
o lindo entardecer
Em laranja e rosa
em bolo, café e prosa
em colo e cafuné
em reza com fé
Em montanha e terra
Em águas e muito ar
Em simples ser
Em profundo amar.
Meu deus,
por todos os deuses,
me diz
foi mesmo você
quem me deu esta vida
sofrida?
Um chegar
já com com sabor salgado
de despedidas
constatntes, doídas...
e a sequência de novo
do novo, da vida?
Que insiste em vencer
em lutar querendo
ser feliz!
Desejando desvelar
o sentido do caminho
o fundo do poço
e o brilho do luar
Cheia de canto,
de alegrias medrosas
do gostar demais
do se entregar à dança
e se perder sem fim
do azul e do negro
do misterioso universo (
)
Medo de consumir todo o oxigênio
e quando chegar beeeem alto
não conseguir respirar
E sufocar o grito
que por toda a vida
esperou o cume
pra se revelar.
quarta-feira, 27 de maio de 2015
Desamor
Por que? Pra que?
Não pode!
NÃO!
Não vá, não sinta,
não desista também.
Siga!
Vai indo
vai rindo
fingindo
que tá tudo bem.
Que a vida é isso.
Só isso.
Um cisco rolando
a esmo, no mesmo.
Sem som, sem cor...
sabor amargo
de rancor.
que por fim virou torpor
pra esquecer
do desamor
Não pode!
NÃO!
Não vá, não sinta,
não desista também.
Siga!
Vai indo
vai rindo
fingindo
que tá tudo bem.
Que a vida é isso.
Só isso.
Um cisco rolando
a esmo, no mesmo.
Sem som, sem cor...
sabor amargo
de rancor.
que por fim virou torpor
pra esquecer
do desamor
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Ondas sonoras
O ar
e as ondas sonoras
que sua boca propaga
longe...
sem limite
sem provisionar
no que vai dar
Atestam sua inocência, ou
ignorância, diriam,
por pensar
assim,
que tudo é simples
e linear.
e as ondas sonoras
que sua boca propaga
longe...
sem limite
sem provisionar
no que vai dar
Atestam sua inocência, ou
ignorância, diriam,
por pensar
assim,
que tudo é simples
e linear.
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
Ó dúvida!
Quando a lagarta vira borboleta é uma maravilha. Mas e quando a borboleta insiste em querer ser lagarta de volta? Como é que faz?
A vida à prova
Mano, esse cara sempre colava no bar que era meu quintal, sabe? Aquele que você mora também? A duas quadras de casa, menos. Ninguém, parece, sabia muito bem sobre ele. Uns falavam que ele tinha sofrido um acidente há uns anos e tinha uma chapa de metal na cabeça, que tinha se endireitado depois disso, mas que já tinha passado pela "casinha". Eu entendi a gíria quando olhei para os braços dele a primeira vez e vi aquelas tatuagens feitas com tinta de caneta Bic, toscas. Assassinato.
Tem gente que pula de paraquedas, outros brigam com o namorado, outros traem, em busca de emoção na vida. Eu vou pro bar e converso com os mais malucos que achar. Minha emoção é sair ileso da noite, o que não significa obviamente intacto. Muito pelo contrário. É provar que aquilo passa por mim, eu observo, aprendo, me sinto vivo, mas não me atinge. Como se assim pudesse ser invisível, ou super flexível, conversando com as pessoas mais diversas, sem fazer parte de nenhum grupo específico. Um exercício de ser camaleão.
Esse cara sempre vinha conversar conosco, minha namorada e eu, e parece que a gente definitivamente atraía os piores "exus" ao redor. Aquele era peixe grande, dava pra sacar, só não sabíamos bem por que. Um dia ele trocou uma ideia estranha com a gente, mas foi simpático, e pediu pra eu ensinar o filho dele a tocar violão. Ele que pagaria.
Dia seguinte chego em casa e sou apresentado ao menino, com seus 16 anos, meio tímido, mas parecia muito atento e esforçado. De fato, parecia que tinha algum talento. Melhor assim, pensei...
E assim se passaram algumas semanas de aula e afeição entre aluno e professor. Um dia chego e lá estão pai e filho, pro jantar. Um pouco de desconforto, devo admitir. Chegar tão próximo assim do perigo não me parecia a coisa mais sábia a se fazer, mas estava feito, já era. E lá estava eu ouvindo histórias de crimes, de cadeia e outras mais, depois de o filho ir embora.
O cara era tão gente fina que ia levar a gente na boca pra comprar um pó bom ali da região. E lá fomos nós pra um beco escuro, onde fomos cercados por caras armados, desconfiados, mas que sim, nos venderam um "papel do bom". E assim viramos de fato "irmãos".
Na noite seguinte estávamos nós naquele mesmo bar, na verdade uma padaria 24h numa região totalmente suspeita do centro de São Paulo. Lá fomos nós em busca de mais alguma estranhice para animar nossas noites alcoólatras? E eis que chega esse outro cara, meio que da nossa idade, mas super agitado e com um olhar de pânico. A gente tava meio que de boa nessa noite, tomando duas pra ir dormir, numa paz, observando uns bolivianos completamente bêbados do outro lado do balcão. Noite silenciosa lá fora e meio morta ali dentro também, até então.
A gente não conseguia entender se ele estava muito louco de pó, crack ou sei lá o que. Ou se ele era assim mesmo, insano. Mas ele se sentou ao nosso lado e começou a beber e falar coisas meio desconexas, sem perguntar nada, uma enxurrada de palavras, histórias da vida dele parecia, e no meio, de repente, a frase "eu acho que eu matei ele, mas nem voltei lá, não sei", "estou com medo", e mais vários goles... Os meus olhos deviam estar quase saltando da órbita e meu coração do peito. Eu olhava pra namorada sem saber o que fazer, pois vi que ela também estava com medo de ter qualquer reação indevida. Perguntei se isso tinha sido hoje? É, agora mesmo... Parece que ele tinha acabado de matar o irmão com um taco de beisebol.
Ele foi nos fazendo ir com ele até a casa dele, dizia que ali do lado, que a gente era legal e que devia conhecer alguém ou algo que estava lá dentro, que ele não queria ficar sozinho... e a gente ia andando e tentando explicar que não podíamos ir, mas a rua estava deserta e não tinha ninguém que, quem sabe, pudesse nos ajudar se ele ficasse sem controle.. É, primeiro grande erro já tinha sido sair do bar com o cara, na falta de outra reação qualquer. E na inércia fomos, até que chegamos na frente do pequeno prédio onde morava o criminoso, e de última hora demos a volta, saímos andando, falando algo que não me lembro mais, tipo que tínhamos que acordar cedo amanhã, mas valeu o convite e fique bem e tchau... e nos livramos do cara, em pânico. Sem acreditar que ele tinha ficado mesmo para trás, andamos o mais rápido que pudemos sem correr.
Ficamos em silêncio por algum tempo, mesmo depois de entrarmos em casa. Parece que finalmente entendemos em qual brincadeira estávamos constantemente nos metendo, há uns anos, naquele exato momento. Como se não bastassem todas as outras tantas situações estupidamente propícias a grandes merdas nas quais já tinham nos metido, aquela fora a gota d'água.
As aulas de violão pararam, as idas àquele bar nunca mais aconteceram e nosso amor, bem, acabou de forma dolorida, mas inevitável, após o fim das aventuras. Entregamos o apartamento, onde depois de meses morando descobri: um pai havia sido morto pelo filho há uns poucos anos. Acho que já sentia isso no ar, sabe? Bem...
Quando não é pra ser, não é. E quando é pra ser, é. Qual outra explicação haveria pra hoje eu ainda estar aqui "ileso" e feliz depois de tudo? E ainda fazendo idiotices, mesmo que menores? Aprendi um limite, voltei um pouco atrás, mas apenas o suficiente pra manter alguma emoção na vida! É o que importa, a diversão, não é verdade? "Eu bebo sim, estou vivendo..."
Tem gente que pula de paraquedas, outros brigam com o namorado, outros traem, em busca de emoção na vida. Eu vou pro bar e converso com os mais malucos que achar. Minha emoção é sair ileso da noite, o que não significa obviamente intacto. Muito pelo contrário. É provar que aquilo passa por mim, eu observo, aprendo, me sinto vivo, mas não me atinge. Como se assim pudesse ser invisível, ou super flexível, conversando com as pessoas mais diversas, sem fazer parte de nenhum grupo específico. Um exercício de ser camaleão.
Esse cara sempre vinha conversar conosco, minha namorada e eu, e parece que a gente definitivamente atraía os piores "exus" ao redor. Aquele era peixe grande, dava pra sacar, só não sabíamos bem por que. Um dia ele trocou uma ideia estranha com a gente, mas foi simpático, e pediu pra eu ensinar o filho dele a tocar violão. Ele que pagaria.
Dia seguinte chego em casa e sou apresentado ao menino, com seus 16 anos, meio tímido, mas parecia muito atento e esforçado. De fato, parecia que tinha algum talento. Melhor assim, pensei...
E assim se passaram algumas semanas de aula e afeição entre aluno e professor. Um dia chego e lá estão pai e filho, pro jantar. Um pouco de desconforto, devo admitir. Chegar tão próximo assim do perigo não me parecia a coisa mais sábia a se fazer, mas estava feito, já era. E lá estava eu ouvindo histórias de crimes, de cadeia e outras mais, depois de o filho ir embora.
O cara era tão gente fina que ia levar a gente na boca pra comprar um pó bom ali da região. E lá fomos nós pra um beco escuro, onde fomos cercados por caras armados, desconfiados, mas que sim, nos venderam um "papel do bom". E assim viramos de fato "irmãos".
Na noite seguinte estávamos nós naquele mesmo bar, na verdade uma padaria 24h numa região totalmente suspeita do centro de São Paulo. Lá fomos nós em busca de mais alguma estranhice para animar nossas noites alcoólatras? E eis que chega esse outro cara, meio que da nossa idade, mas super agitado e com um olhar de pânico. A gente tava meio que de boa nessa noite, tomando duas pra ir dormir, numa paz, observando uns bolivianos completamente bêbados do outro lado do balcão. Noite silenciosa lá fora e meio morta ali dentro também, até então.
A gente não conseguia entender se ele estava muito louco de pó, crack ou sei lá o que. Ou se ele era assim mesmo, insano. Mas ele se sentou ao nosso lado e começou a beber e falar coisas meio desconexas, sem perguntar nada, uma enxurrada de palavras, histórias da vida dele parecia, e no meio, de repente, a frase "eu acho que eu matei ele, mas nem voltei lá, não sei", "estou com medo", e mais vários goles... Os meus olhos deviam estar quase saltando da órbita e meu coração do peito. Eu olhava pra namorada sem saber o que fazer, pois vi que ela também estava com medo de ter qualquer reação indevida. Perguntei se isso tinha sido hoje? É, agora mesmo... Parece que ele tinha acabado de matar o irmão com um taco de beisebol.
Ele foi nos fazendo ir com ele até a casa dele, dizia que ali do lado, que a gente era legal e que devia conhecer alguém ou algo que estava lá dentro, que ele não queria ficar sozinho... e a gente ia andando e tentando explicar que não podíamos ir, mas a rua estava deserta e não tinha ninguém que, quem sabe, pudesse nos ajudar se ele ficasse sem controle.. É, primeiro grande erro já tinha sido sair do bar com o cara, na falta de outra reação qualquer. E na inércia fomos, até que chegamos na frente do pequeno prédio onde morava o criminoso, e de última hora demos a volta, saímos andando, falando algo que não me lembro mais, tipo que tínhamos que acordar cedo amanhã, mas valeu o convite e fique bem e tchau... e nos livramos do cara, em pânico. Sem acreditar que ele tinha ficado mesmo para trás, andamos o mais rápido que pudemos sem correr.
Ficamos em silêncio por algum tempo, mesmo depois de entrarmos em casa. Parece que finalmente entendemos em qual brincadeira estávamos constantemente nos metendo, há uns anos, naquele exato momento. Como se não bastassem todas as outras tantas situações estupidamente propícias a grandes merdas nas quais já tinham nos metido, aquela fora a gota d'água.
As aulas de violão pararam, as idas àquele bar nunca mais aconteceram e nosso amor, bem, acabou de forma dolorida, mas inevitável, após o fim das aventuras. Entregamos o apartamento, onde depois de meses morando descobri: um pai havia sido morto pelo filho há uns poucos anos. Acho que já sentia isso no ar, sabe? Bem...
Quando não é pra ser, não é. E quando é pra ser, é. Qual outra explicação haveria pra hoje eu ainda estar aqui "ileso" e feliz depois de tudo? E ainda fazendo idiotices, mesmo que menores? Aprendi um limite, voltei um pouco atrás, mas apenas o suficiente pra manter alguma emoção na vida! É o que importa, a diversão, não é verdade? "Eu bebo sim, estou vivendo..."
Segredo #3
Ela abandonou a família para viver sua grande paixão, que eles nunca aceitaram. Ela sempre sonhara em carregar as suas poucas coisas nas costas, e limpar o mundo todo. Acompanhada de quantos cachorros quisesse. Eles a amariam e entenderiam, sempre.
Segredo #2
Ela sempre olhava incomodada para a mão de sua mãe nas coxas dele, e depois de tantos outros. Seus gestos lhe eram incompreensíveis, mas ainda ainda assim ela própria os replicava.
Segredo #1
Era na lavanderia, no subsolo da enorme casa, onde ela se sentia mais imunda... e repugnava-se de ambos.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
A solidão
A solidão foi minha amiga por bastante tempo.
Filha única, deslocada, desterritorializada, aérea,
sonhando com personagens, terras misteriosas, aventuras
num sentimento inominável de desejo de algo distante
Eu escutava com atenção minhas amigas e os adultos
e brincava na rua com os meninos, me divertia,
mas chorava baixinho sozinha, sentindo o mundo grande demais
difícil demais, às vezes confuso demais ou cruel
O fato de estar ali para meus queridos, de me sentir uma boa amiga
de me importar com o mundo, maravilhada pela sua riqueza,
de buscar sempre fazer o meu melhor e ser sempre melhor
me dava uma ilusão de que estava tudo bem, pois eu fazia parte
Mas um dia a solidão me assustou porque de surpresa,
aquela amiga largou da minha mão e se foi...
aquele amigo me pareceu estranho e eu me fui...
um amor acabou e me corroeu a esperança mais ingênua
Enfim realmente só, sem conseguir me abrir,
sem conseguir ler uma boa história, ou ver um bom filme
sem conseguir escutar aquela música sem doer
sem poder abraçar todos aqueles que não estão, nunca mais
A solidão foi o que me restou, vagando, buscando
quem sabe pra sempre algo intangível porque tão simples
desejando apenas o amor e a paz, os discos e os livros
os sorrisos e os silêncios confortáveis dentro do meu próprio lar.
O meu próprio lar.
Filha única, deslocada, desterritorializada, aérea,
sonhando com personagens, terras misteriosas, aventuras
num sentimento inominável de desejo de algo distante
Eu escutava com atenção minhas amigas e os adultos
e brincava na rua com os meninos, me divertia,
mas chorava baixinho sozinha, sentindo o mundo grande demais
difícil demais, às vezes confuso demais ou cruel
O fato de estar ali para meus queridos, de me sentir uma boa amiga
de me importar com o mundo, maravilhada pela sua riqueza,
de buscar sempre fazer o meu melhor e ser sempre melhor
me dava uma ilusão de que estava tudo bem, pois eu fazia parte
Mas um dia a solidão me assustou porque de surpresa,
aquela amiga largou da minha mão e se foi...
aquele amigo me pareceu estranho e eu me fui...
um amor acabou e me corroeu a esperança mais ingênua
Enfim realmente só, sem conseguir me abrir,
sem conseguir ler uma boa história, ou ver um bom filme
sem conseguir escutar aquela música sem doer
sem poder abraçar todos aqueles que não estão, nunca mais
A solidão foi o que me restou, vagando, buscando
quem sabe pra sempre algo intangível porque tão simples
desejando apenas o amor e a paz, os discos e os livros
os sorrisos e os silêncios confortáveis dentro do meu próprio lar.
O meu próprio lar.
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