O que me assombra tem asas, e voa.
Eu não.
O que me assombra tem antenas,
e percebe o mundo
muito mais sutilmente que eu.
O que me assombra tem seu cérebro espalhado pelo corpo,
e não morre tão fácil quanto eu.
O que assombra também me apavora,
me dá nojo,
ânsia.
E aparece repentinamente,
na calada da noite,
sozinha,
pra provar que tem mais poder que eu
e atrapalhar meu momento mais íntimo.
Ontem ela me tocou,
e o abismo que havia entre nós passou,
em um segundo,
a fazer parte do meu ser.
O pavor do seu toque,
agora concretizado em meu calcanhar,
provou-me que não sou tão limpa quanto imaginava,
mas um bicho arredio, fraco, patético,
e condenado à desgraça,
à imundície.
Ela se limpou após me tocar,
disso nunca me esquecerei.
Ela teve mais nojo de mim, que eu dela.
A mim, só me restou chorar.
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