Abacateiro, de Helton Souto
(o poema foi escrito para dialogar com essa ilustração)
O amarelo grita alto,
enquanto minhas asas
curvas te envolvem
e subimos juntos...
o abraço afaga e alimenta
uma viagem por todo o universo;
as raízes se expandem
horizontais, e florescem
em preto, branco
e vermelho
sangram amor,
e renascem
em livres sons
que aprofundam histórias
e preenchem de silêncios
a paisagem resignada
Bailamos juntos
indeterminadamente
e de longe reconhecemos
os nosso traços recorrentes
O tempo que penetra as células
aguarda ao infinito
a hora certa para desaguar
por completo, e se eternizar...
Sei que seu tato não mais sente
os sabores das minhas palavras
agora mudas, inanimadas,
no pano de fundo, apenas na sua mente
mas seus ouvidos sabem
o alento que traz o sopro
que toca esses galhos e folhas
e eu te inundo, mesmo estando apenas de passagem
De repente, você compreende
o sentido exato que sua voz busca
insistentemente.
Está estampado bem na sua frente
- essa robusta árvore, meu filho,
certamente, também vai se acabar,
como você, como seu fruto,
que alimentará outros sonhos, enquanto morre.